terça-feira, 30 de novembro de 2010

Drop: Desafio 30 livros em 30 dias

Acabei chegando atrasado no desafio de 30 livros em 30 dias (cheguei dia 5), mas preparei minhas escolhas e resolvi postar um Drop com todas elas de uma vez só. Por ser postagem única, as explicações são bem rápidas. Muitas dessas perguntas possuem várias respostas, e o critério de desempate foi evitar repetições.

Dia 01 – um livro que te surpreendeu completamente
O livro que me surpreendeu completamente foi Saraminda do José Sarney (sim, esse Sarney mesmo que você está pensando). Sarney assim como Saramago e Paulo coelho sãoos 3 escritores de língua portuguesa que mais recebem comentários por quem nunca leu suas obras (Saramago positivamente, e os outros dois negativamente). Diferente do que se possa imaginar, Sarney não é tão ruim quanto se imagina (ainda não chega a ser muito bom), e Saraminda não é um lixo como pensei que seria quando o comprei.

Edição Lida:
SARNEY, José. Saraminda. São Paulo: Siciliano, 2000, 250p.

Dia 02 – um livro que te fez chorar 
Na verdade, nenhum. Acho que isso se dá pelo fato de ter começado a ler de verdade um pouco tarde (1º Ano), e não consigo me emocionar dessa forma com um texto, pois, sinto apenas o prazer de um leitor compulsivo. TALVEZ se eu tivesse lido o Pequeno Principe quando criança (li esse ano) eu choraria. TALVEZ.

Dia 03 – o melhor livro que você leu nos últimos 12 meses
Com certeza O Barão nas Árvores de Italo Calvino na tradução de Nilson Moulin para a Companhia das Letras. Já resenhei esse livro aqui e não preciso falar mais nada sobre ele.

Dia 04 – um livro que você leu mais de uma vez
A maioria dos livros que gosto eu leio mais de uma vez, entretanto, o que eu mais lí até hoje foi o Memórias Póstumas de Brás Cubas, que foi um dos primeiros livros que li. Li esse livro na íntegra 6 vezes em várias edições, e sempre releio vários trechos. Aliás, todo ano eu tenho que ler pelo menos um livro de machado e reler pelo menos um anualmente.

Dia 05 – o primeiro livro que você lembra de ter lido
Se tivesse respondido dia 5, teria respondido com toda a certeza Memórias Póstumas, entretanto, minha irmã me lembrou dos livros de fábulas de La Fontaine e Hans Cristian Andersen que li quando era criança.

Edições Lidas:
ANDERSEN, Hans Cristian. Fábulas. Trad: Maria Cimolino e Grazia Parodi. São Paulo: Rideel, 1995. (Coleção No Reino da Garotada III)
LA FONTAINE, Jean de. Fábulas. Trad: Maria Cimolino e Grazia Parodi. São Paulo: Rideel, 1995. (Coleção No Reino da Garotada V)

Dia 06 – capa de livro favorita
Gosto muito de capas simples, com uma imagem simples e o nome. As vezes muito exagero danifica a capa. Entretanto, tenho que tirar o chapéu para as capas da editora Underworld, que mesmo sendo uma editora que está dando seus primeiros passos, possui uma equipe preocupada e belas capas. Não sou um grande fã do gênero dos livros que a editora publica (embora gosto de alguns autores como o Lovecraft), mas as capas chamam atenção e dão a vontade de comprar os livros apenas para por eles num quadro.

Dia 07 – um livro que achou difícil de ler
O livro de Schopenhauer da série Os Pensadores da Nova Cultural. Já sou acostumado a ler filosofia (incluindo Kant, que é temido), mas o pensamento de Schopenhauer é dificílimo. Tive qu reler muitas partes e pensar com calma sobre vários pontos. Para auxiliar a compreensão precisei de outros dois Livros (Schopenhauer de Jair Barbosa e Filosofia Contemporânea de Benedito Nunes).

Dia 08 – um livro que todos deveriam ler pelo menos uma vez
Vou indicar uma série de livros na verdade (que não li toda, diga-se de passagem). É o Em Busca do Tempo Perdido de Proust, que só tive a oportunidade de ler Um Amor de Swann (na divisão atual, esse livro faz parte do primeiro: No Caminho de Swann), O Tempo Redescoberto e parte de Sodoma e Gomorra. A publicação original possuia 13 volumes, mas hoje em dia comumente divide-se a obra em 7 volumes. É o maior clássico da literatura francesa, e curiosamente, o final foi escrito junto do início, e o meio que foi sendo escrito aos poucos. Essa obra foi traduzida por Drummond e Quintana.

Dia 09 – a melhor cena que você já leu
Muitas, mas vou citar a mais recente: A morte de João do Mato em O Barão nas Árvores de Italo Calvino. A cena se encontra no final da minha resenha aqui.

Dia 10 – um livro que você não terminou de ler
La Symphonie Pastorale do André Gide. Ainda não terminei de ler porque o livro está em francês e minha aptidão nessa língua ainda não é o suficiente para a leitura. Ainda irei terminar de lê-lo um dia.

Minha Edição:
GIDE, André. La Symphonie Pastorale. France: Gallimard, 1925, 158p. (Impresso em 2009)

Dia 11 – seu tipo de livro favorito
Depois de muito pensar achei a resposta: Ficção. Todo o tipo de ficção é bem vinda, desde poesia e crônica até o conto, a novela e o romance.

Dia 12 – um livro que te faz lembrar alguém
Dom Casmurro me faz lembrar uma grande amiga minha que não vejo a muitos anos.

Dia 13 – um livro que você gostaria que virasse filme
Gostaria muito que existisse um filme de Chove nos Campos de Cachoeira, do escritor Dalcídio Jurandir (Prêmio Machado de Assis pelo Conjunto da Obra). O livro é muito interessante, embora a narrativa seja um pouco lenta. Há muitas cenas no livro que imaginei em um filme.

Dia 14 – personagem de livro favorita
O filósofo Quincas Borba de Machado de Assis, que aparece em Memórias Póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba. O personagem filósofo de Machado é divertidíssimo, e talvez o melhor personagem criado pelo grande escritor brasileiro (mais até do que Dom Casmurro, Capitu, Brás Cubas ou Marcela).

Dia 15 – um livro que te conforta
Basicamente, todos os livros me confortam, mas um em especial me conforta mais, e esté é Laços de Família de Clarice Lispector. Já resenhei esse livro aqui.

Dia 16 – um livro que você gostou e que virou filme
A Ilíada de Homero. O livro virou milhares de filmes, alguns bons e outros ruins.

Dia 17 – uma personagem de livro que você gostaria de chamar de seu
Me identifico muito com essa garotinha que aparece em Menina que Vem de Itaiara, Estradas do Tempo-foi e Eram Seis Assinalados. Além de minha conterrânea, nossas atitudes quando criança e adulto combinam, nosso pensamento é muito parecido. O problema só é uma pequena disfunção cronológica, pois, se minhas suposições estiverem corretas, ela nasceu na década de 20, e hoje teria uns 90 anos. Alguns estudiosos acreditam que Irene é uma personagem que representa a própria escritora (assim como o Aires de Machado).

Dia 18 – um início de livro que você gosta

    Quando eu me encontrava na metade do caminho de nossa vida, me vi perdido em uma selva escura, e a minha vida não mais seguia o caminho certo. Ah, como é difícil descrevê-la! Aquela selva era tão selvagem, cruel, amarga, que a sua simples lembrança me traz de volta o medo. Creio que nem mesmo a morte poderia ser tão terrível. Mas, para que eu possa falar do bem que dali resultou, terei antes que falar de outras coisas, que do bem, passam longe.
    Eu não sei como fui parar naquele lugar sombrio. Sonolento como eu estava, devo ter cochilado e por isso me afastei da via verdadeira. Mas, ao chegar ao pé de um monte onde começava a selva que se estendia vale abaixo, olhei para cima e vi aquela ladeira coberta com os primeiros raios do sol. A cena trouxe luz à minha vida, afastou de vez o medo e me deu novas esperanças. Decidi então subir aquele monte. Olhei para trás uma última vez, para aquela selva que nunca deixara uma alma viva escapar, descansei um pouco, e depois, iniciei a escalada.
Retirado de "Inferno" de Dante Alighieri traduzido por Helder Rocha e disponível em: http://www.stelle.com.br/pt/inferno/inferno.html

Dia 19 – um livro que mudou a tua cabeça sobre um determinado assunto
Tudo o que lemos e vivemos muda nossa forma de pensar, querendo ou não. Um livro que mudou muito a visão que eu tinha sobre a Verdade foi o Crepúsculo dos Ídolos de Friedrich Nietzsche.

Edição Lida:
NIETZSCHE, Friedrich. Crepúsculo dos Ídolos: ou como filosofar com o martelo. Trad: Jacqueline Valpassos. São Paulo: Golden Books/DPL, 2009,152p.

Dia 20 – um final de livro surpreendente!
O Tempo Redescoberto – Marcel Proust. O livro inteiro é um final, e é muito impressionante. Geralmente finais de livros não me impressionam, mas o Tempo Redescoberto impressiona pela beleza poética com que é escrito.

Dia 21 – um livro guilty pleasure
O maior problema de gostar do livro Gênio de Harold Bloom é puramente acadêmico. Considero um livro Guilty Pleasure pois as pesquisas que faço de literatura, hoje, são de um grupo de estudos culturais, que muitas vezes (quase sempre) defende pontos de vista divergentes do que Bloom prega em seu livro, e meu professor teria um enfarto se soubesse que eu leio e aprovo muitas idéias desse livro, incluindo o conceito de genialidade (e por oposição, também o conceito de lixo literário) entre outros. O livro se compõe de um mosaico com 100 escritores geniais, que exemplificam todo o pensamento do autor. O livro é o único livro teórico que conheço, que figurou listas de mais vendidos e se tornou um Best-Seller mundial.

Edição Lida:
BLOOM, Harold. Gênio: os 100 autores mais criativos da história da literatura. Trad: José Roberto O'Shea. São Paulo: Objetiva, 2003, 826p.

Dia 22 – casal literário favorito
Meu casal literário favorito é dos alemães não alemães Lou Andreas-Salomé e Rainer Maria Rilke. Os dois são escritores alemães (mas Lou nasceu na Rússia e Rilke no antigo império Austro-Húngaro) que possuem uma história explêndida. Muitas vezes também figuram como personagens de ficção. Considerando as "Cartas" como gênero literário (e são), temos os dois como escritores e personagens de suas correspondências.

Dia 23 – uma personagem irritante
Mais uma Irene, só que essa é de Dalcídio Jurandir e de seu Ciclo do Extremo Norte (10 livros, sendo que Chove nos Campos de Cachoeira [citado acima] e Marajó [na minha lista do DL] fazem parte desse ciclo). Assim como a Viola de O Barão nas Árvores, Irene é detestável, e por isso, acaba sendo uma personagem que adoro também. Só quem leu os livros em que ela aparece sabem o quanto Irene é irritante.

Dia 24 – uma citação de livro que você gosta
Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é a condição da sobrevivência da outra, e a destruição não atinge o princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.
 Extraído de Quincas Borba de Machado de Assis. Disponível no Portal do MEC em: http://machado.mec.gov.br/arquivos/html/romance/marm07.htm

Dia 25 – 5 livros que estão na tua pilha de “vou ler” 
Minha pilha de "vou ler" está monstruosa, principalmente porque compro livros em uma velocidade impressionante. Quase todos os livros do desafio literário estão na minha pilha, mas além dos do desafio, dos teóricos, e dos que já citei tenho em minha lista: A misteriosa Chama da Raínha Loana (Umberto Eco), O Paraíso (Dante), A Cura de Schopenhauer (Yalom), Estradas do Tempo-foi (Lindanor Celina) e Lolita (Nabokov). Como era para citar só 5...

Dia 26 – um livro que você gostaria de ter escrito
Ou Ulysses de James Joyce ou a tradução Ulisses de Houaiss. O livro de Joyce é lastimavelmente muito mal compreendido (e figura em centenas de listas de piores livros na internet), mas em contrapartida, é considerado o maior romance do século XX escrito em inglês. A tradução de Houaiss também é uma lenda da tradução e da arte de traduzir.

Dia 27 – se um livro tem ___, você sempre lê
Uma boa história. Desculpem, foi o melhor que consegui pensar.

Dia 28 – um livro que você gostaria de ler mas que por algum motivo nunca leu
A Montanha Mágica de Thomas Mann. Sempre quiz ler esse livro, mas nunca achei-o em nenhuma livraria. Recentemente consegui comprá-lo, e confesso que me espantei deveras pois são quase 1000 páginas na cara em fonte pequena. Esse livro vai me exigir muita dedicação.

Minha Edição:
MANN, Thomas. A Montanha Mágica. Trad: Herbert Caro. 2ªEd. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. 958p.

Dia 29 – um escritor que você adora e um que você detesta
Adoro muitos autores, assim como detesto tantos outros. Vou usar o meu clichê, levando em consideração que eu sou o público alvo de ambos os escritores: Adoro Machado de Assis e detesto José de Alencar.

Dia 30 – qual(is) livro(s) você está lendo agora?
Por fim, estou lendo vários livros no momento. dentre eles Hortência de Marques de Carvalho (ex-desafio literário, atual objeto de estudo e futuro livro a ser resenhado), Amazônia de Bertha Becker (teórico sobre o conceito de amazônia) e Antologia de Contos do VI Concurso de Contistas do Norte (estou lendo um conto por vez, e não pretendo resenhar esse livro).

domingo, 28 de novembro de 2010

Memorial de Aires - Machado de Assis

Acho que demorei de mais para falar de Machado de Assis pela primeira vez (o desafio 10 livros em 10 dias não conta), e ainda por cima resolvi falar de Memorial de Aires, que simplesmente é um dos livros mais desconhecidos desse autor. Acho desnecessário falar do autor, que deve ser conhecido de todos (exeto o fato de que machado NÃO é realista em momento nenhum de sua vida). Alguns consideram Machado o maior escritor da literatura brasileira, enquanto outros o consideram o escritor mais chato de todos os tempos. Um amigo meu até informou que preferia ler "Júlias" e "Sabrinas" a ler qualquer coisa de Machado; há gosto pra tudo afinal.

Quanto ao Memorial de Aires, é uma pena que tenha ficado ofuscado em meio ao sucesso de "Memórias Póstumas" e "Dom Casmurro", e acabou sendo esquecido. É engraçado que a maioria dos grandes escritores passam por uma situação parecida com essa, sendo que geralmente ninguem lembra daquilo que foi escrito após a magnum opus do autor, e exemplos claros são: Thomas Mann, que pouco se comenta sobre as obras que vieram após "A Montanha Mágica" (exceto TALVEZ Doutor Fausto); e Goethe, que ficou esquecido após Fausto.

Muitas vezes o "Memorial" é considerado a obra de decadência de Machado, retormando a visão romântica do mundo, outros consideram a obra melancólica de mais, e outros ainda afirmam que a obra é biográfica e que o conselheiro Aires é o próprio Machado. Na minha (não)humilde opinião, todos estão errados, pois Memorial de Aires é um romance genial, que por não ser melhor que Memórias ou Dom Casmurro acabou recebendo esses rótulos de decadente.

A narrativa de Memorial de Aires é bem interessante, pois, trata-se de um diário que foi escrito pelo conselheiro Aires (narrador de Esaú e Jacó). O estilo me lembra muito Os Sofrimentos do Jovem Werter de Goethe, que é escrito em forma de cartas. A narrativa é pessoal e bastante variada, sendo que o conselheiro narra em suas anotações acontecimentos cotidianos, anedotas, reflexões (metafísicas e políticas) e casos envolvendo pessoas de suas relações. Dentre os inúmeros dias do diário, muitos são dedicados ao casal Aguiar e seus apadrinhados (o afilhado Tristão e a quase-filha Fidélia).

A linguagem do livro é simples, talvez a mais simples de todos os romances de Machado. As pequenas narrativas do texto são profundas em sua simplicidade, desde a ambientação aos personagens. Os personagem em Memorial de Aires fogem um pouco ao tradicional personagem "lunático" de Machado como: Quincas Borba, Dom Casmurro, Rubião, Brás Cubas, Simão Bacamarte e etc... É um livro bem gostoso de ler, embora distancie-se um pouco do estilo machadiano.

Como presente, aqui vai um trechinho aleatório da obra para que possam ter seus próprios conceitos sobre ela. O ideal é a compra do livro. Não se espantem com a grafia, pois minha edição é de 62 (por isso a lombada meio gasta da capa aí de cima), e peço desculpas por não possuir uma edição mais moderna.
4 de agôsto
Indo a entrar na barca de Niterói, quem é que encontrei encostado à amurada? Tristão, ninguém menos, Tristão que olhava para o lado da barra, como se estivesse com desejo de abrir por ela fora e sair para a Europa. Foi o que eu lhe disse, gracejando, mas êle acudiu que não.
- Estou a admirar estas nossas belezas, explicou.
- Dêste outro lado são maiores.
- São iguais, emendou. Já as mirei tôdas, e do pouco que vi lá fora é ainda o que acho mais magnífico no mundo.
O assunto era velho e bom para atar conversa; aproveitamo-lo e chegamos ao desembarque, depois de trocadas muitas idéias e impressões. Confesso que as minhas não eram mais novas que o assunto inicial, e eram curtas; as dêle tinham sôbre elas a vantagem de evocações e narrativas. Não estou para escrever tudo o que lhe ouvi acêrca dos anos de infância e adolescência, nem dos de mocidade passados na Europa. Foi interessante, decerto, e parece que sincero e exato, mas foi longo, por mais curta que fôsse a viagem da barca. Enfim, chegamos à Praia Grande. Quando eu lhe disse que preferia êste nome popular ao nome oficial, administrativo e político de Niterói, dissentiu de mim. Repliquei que a razão do dissentimento vinha a ser eu velho e êle moço. "Criei-me com a Praia Grande; quando o senhor nasceu a crisma de Niterói pegara." Não havia nisto agudeza alguma; êle porém, sorriu como achando fina a resposta, e disse-me:
- Não há velhice para um espírito como o seu.
- Acha? perguntei incrèdulamente.
- Já meus padrinhos mo haviam dito, e eu reconheço que diziam a verdade.
Agradeci de cabeça, e, estendendo-lhe a mão:
- Vou ao palácio da presidência. Até à volta, se nos encontramos. (pg.112-113)
 Nota do Elaphar: 9,6

Edição Lida:
MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria. Memorial de Aires. São Paulo: Mérito, 1962, 279p. (Obras Completas de Machado de Assis Vol.9)

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O Bordado da Urtiga - Gilson Cavalcante

Já falei desse carinha aqui um dia desses, e cá estou aqui para falar de mais um livro seu! Acho que não preciso mais falar sobre Gilson Cavalcante ou sobre a "questão" dos livros de poesia, pois já falei disso quando resenhei Anima Animus do mesmo autor..

Tudo o que eu falei no outro livro do autor (Anima Animus) NÃO se aplica a esse livro aqui! Primeiro quanto à edição, que do primeiro livro foi caseira, enquanto a do segundo foi promovido pelo governo do estado (TO) e impresso em uma editora profissional (Kelps). Incrivelmente, a qualidade gráfica do outro livro supera muito a qualidade deste aqui. A começar pela capa, que não é nem um pouco interessante como a do outro livro (e a faixa branca não ficou legal). A diagramação das poesias também é bem fraca, pois a margem é muito distante do corte, que deveria dar um aspecto de "centralização" do texto, que não é atingido. Os títulos dos poemas não mantêm um padrão, e ora estão alinhados com a margem, ora centralizados, e algumas vezes até deslocados. Outra observação é que os títulos dos poemas têm a mesma fonte do título de livro na capa, que algumas vezes dificulta a leitura dos títulos, e é um ponto fraquíssimo do livro.

Outro ponto que difere esse livro do que foi resenhado anteriormente, é que ele contém lombadas, orelhas e prefácios, o que seria uma produção melhor, se... bom é melhor falar de cada um separadamente. A lombada possui o título do livro quase ilegível. A orelha da frente contém uma breve biografia do autor, que é bem sucinta e comum, mas faria um professor de português ou redação ter um ataque convulsivo, pois aparentemente não passou por nenhuma revisão, e o ponto mais gritante é a mudança de 3ª para 1ª pessoa. A orelha final é bizarra, pois onde deveria estar a análise básica da obra ou um elogio ao livro (no interesse de vendê-lo, pois a maioria dos leitores compra o livro pelas orelhas), diz apenas como o escritor é cachaceiro (é isso que aparenta, mas não conheço o escritor); não sou especialista em marketing, mas não acho que essa estratégia deve dar muito certo (eu pelo menos não compraria um livro com orelhas assim). Por fim, os prefácios são tão esclarecedores quanto as orelhas, e não me sinto à vontade para falar deles. Outra coisa que me saiu aos olhos foi a ficha catalográfica, que indica um livro de literatura brasileira, mas seu CDU indica um livro de literatura em língua inglesa.

Claro, a maioria dos leitores está pouco se lixando para esses detalhes, e o que interessa é o livro, não problemas de edição. Então vamos falar das poesias....

Também diferente do livro anteriormente resenhado (que é mais recente que este), O Bordado da Urtiga não possui um fio condutor, portanto suas poesias são mais variadas, o que tira o aspecto de uniformidade, mas garante uma leitura mais variada e menos repetitiva. Um ponto positivo desse livro é que muitas poesias são bem reflexivas, e muitas são bem bonitas.

A falta de um fio condutor nesse livro dificulta muito a análise do livro como todo, mas não torna-a impossível.O primeiro ponto a se notar é quanto ao refinamento técnico, que como o primeiro prefaciador citou (uma das poucas observações pertinentes, ao meu ver), "não é cult nem light". Há de certa forma um resquício de fio condutor em sua obra, que é desenganosa e pessimista, sem contudo ser de fato pessimista ou desenganosa (?). As personagens pré-prontas também aparecem nesse livro, porém com frequência ínfima. Diferente do que o segundo prefaciador quer mostrar, não há presente no livro características do futurismo, ou disposição tipográfica no livro com grande força ou base poética, mas, as poucas aparições tipográficas aparecem nas poesias de Gilson como característica auxiliar e secundária, pois em suas poesias a palavra é mais importante que a disposição das mesmas.

As poesias contidas em O Bordado da Urtiga não possuem grandes inovações poéticas, entretanto, parecem sinceras consigo mesmas, e são interessantes de se ler, o que é mais importante em um livro. Gilson não inova, mas é um bom poeta, e esse livro supera o Anima Animus, mesmo com seus defeitos de edição. A poesia que compõe O Bordado da Urtiga permite os vários passeios pelos sentidos que a compõe e pelos que não a compõe, o que permite a multiplicidade de leituras que a poesia exige..

Nota do Elaphar: 8,4

Edição Lida:
CAVALCANTE, Gilson. O Bordado da Urtiga. Goiânia: Kelps. 2009, 104p.

Outra observação nem um pouco importante: A edição contêm uma dedicatória ao Dênis, onde o autor o chama de "colcha de retalhos". Aparentemente é um elogio, mas não consigo apreender nenhum significado que não seja pejorativo para "colcha de retalhos". Aparentemente é uma expressão do Tocantins ou Goiás. Se o Dênis ou algum outro que soubre me dizer o que significa especificamente esse "colcha de retalhos" agradeço.

BÔNUS
Amolador de facas

O amolador de facas
não tem inimigos
e afia assovios breves
no círio dos pavios.

O amorador de facas
aponta estacas
nos limites da falha.

Vive de colher limalha
no esmeril do silêncio
e a des(a)fiar punhais no peito
do que se fez ausente.

O amolador de facas
adula a face da lima em cortes
para a carne que ele fatia.
O Círculo de Pólvora (II)

Chegou a hora
de ruflar os tambores
e convocar a tempestade.

Chegou a hora de provocar
a ira dos deuses.

A hora de acender
os pavios na pólvora
                da palavra
e cuspir a lavra de fogo
no algodão do verso
              naufragado.

Chegou a hora
para a voz do nada,
o sentido anti-horário
do calendário de pedras
no bico das gaivotas.

A hora revolta das águas
sobre as labaredas da utopia,
o instante do fim que não principia.
Chegou a hora marcada
para o encontro com o silêncio:
hiato onde Deus ensaia
seu beijo em minha boca
profana a bocejar violetas
no pomar de borboletas.
Sombra das sobras

A sombra que em mim sobra
são vestígios de asas.

O resto é outono
no gesto das mariposas.

Tudo que em ti
              sobra
é sombra antes
do apagar das luzes.

A vida aqui virou
          vaga-lume.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

A Viajante e Seus Espantos - Lindanor Celina

Gostaria primeiro de pedir desculpas! Deveria postar a continuação das capas feias, com as melhores (?) capas. Mas meu notebook queimou e não estou com vontade de fazer o post de novo!!! Por isso vou resenhar mais um livro:
Para quem não conhece, Lindanor Celina é uma grande escritora nascida em Castanhal (PA), que morou em Bragança (minha cidade), foi professora em São Luíz (MA), e recebeu uma bolsa para estudar na frança onde defendeu uma tese sobre a poética de Mário de Andrade (Mário de Andrade, l'ecrivain) na Sorbonne Nouveau em Paris e foi durante muito tempo professora de literatura e cultura brasileira e portuguesa na universidade de Lilie. Morreu na frança em 2003.

Em sua carreira literária, foi discípula de ninguem menos que Dalcídio Jurandir (Prêmio Machado de Assis pelo Conjunto da Obra da ABL), Paulo Mendes e Benedito Nunes (dois Jabutis, além de ser considerado um dos maiores estudiosos de Heidegger, Clarice e João Cabral). Seu primeiro livro foi Menina que vem de Itaiara, que possuiu uma boa recepção crítica, como todos os outros livros da autora, que ostentam prêmios e prêmios literários. Afrânio Coutinho considera sua literatura como "literatura de costumes", o que na minha opibnião é a forma mais idiota de tentar definir a literatura dessa grande autora, e portanto, discordo do crítico. Lindanor é considerada uma das maiores escritoras da região amazônica, entretanto, sua obra está esgotada, podendo ser encontrada basicamente em bibliotecas e sebos.

Uma curiosidade interessante da literatura amazônica (e principalmente paraense), é que é uma literatura extremamente vasta e valorizada pela crítica e pela academia (no Jalla conto vários autores paraenses entre os estudados, entre eles: Lindanor, Benedicto Monteiro, Sultana Levy, Salomão Laredo e outros, além de vários autores homenageados em feiras e congressos no exterior), entretanto, possui uma recepção um pouco fraca entre leitores (leia-se nº de edições e vendas).

Pelos comentários acima, deu para perceber que gosto muito dessa autora, porém., nem isso contribui para uma avaliação melhor desse livro...

Esse livro de Lindanor é um livro de crônicas, mas não é nem de crônicas humorísticas (ao estilo de Sérgio Porto ou Veríssimo) nem de crônicas políticas (ao estilo de Jabor) nem ao menos metafísicas (ao estilo de Machado), mas sim um livro de crônicas de desabafo de suas viagens, o que mais parece postagen de blogs de hoje em dia. Se quiserem ter uma ideia do conteúdo do livro, é muito similar às colunas da Ciça do site Viver na Alemanha (por coincidência, conterrânea de celina).

A produção do livro foi bem feita, apesar de sentir um desconforto. Por quê? A contracapa está repleta de elogios a outras obras da autora (nenhum sobre o próprio livro), e a orelha basicamente se aproveita de seus bons romances também, como se a dizer para o leitor: tudo o que ela escreveu é bom, por isso esse livro deve ser também. Outro ponto é o prefácio de Pais Loureiro (tenho um livro dele no meu desafio literário), que não é muito seguro de si, pois quando ele afirma que gosta das crõnicas de Celina, parece mais com uma tonalidade de "Eh, né! Até gosto dessas crônicas, mas...".

Quanto às crônicas, algumas possuem grande qualidade literária, outras não; algumas possuem histórias bem divertidas ou interessantes (como a da suicida), outras não; algumas são mostras da cultura do local onde a escritora se encontra (Holanda, França, Espanha ou Portugal), outras são bem triviais, outras ainda são breves comentários sobre literatura. Como todo cronista, há também trechos sobre a própria crônica.

As crônicas que falam sobre literatura são de qualidade muito maior que a grande maioria, mesmo não sendo exatamente "ensaios" ou "estudos detalhados". O passeio que a escritora faz em Ulysses é tão interessante que dá a qualquer um a vontade de ler (ou reler caso tenha lido e não gostado) a obra de Joyce; O breve comentário sobre a obra de Simone de Beauvoir (amiga pessoal de Celina) também é muito legal, e vai contra algumas criticas da época.

Algumas crônicas (uma boa parcela) são de histórias bem triviais, e elas geralmente possuem qualidade literária questionável (afinal, muitos blogueiros fazem escritos parecidos), mas são gostosas de ler... pensando bem... Dane-se a qualidade literária, não estou preparando um artigo agora. Essas histórias são muito legais pois mostram diferenças entre as culturas (como Caderno de trem), ou semelhanças inusitadas (como em Eu pensava que só em Bragança), episódios cômicos (como em E eu querendo cantar) ou até estranhos (como em Um prodígio me esperava).

Por fim, o livro é algo bom e interessante de se ler, principalmente para quem gosta da cultura estrangeira ou pretende morar em um outro país. Também é um bom livro para quem gosta de histórias contadas pelos mais velhos, pois as narrativas desse livro possuem características de escrita tão pessoais que lembram uma pessoa mais velha contando pessoalmente essas histórias, e rindo. A maioria dos blogueiros deve estar acostumado com o rítimo dessa narrativa, que é ora super veloz, ora meio lenta, como de alguem tentando lembrar o que ia dizer, ou especulando ao nada. Não é um livro que você DEVA ler em sua vida, mas sim um livro que você vai gostar de ter lido. De todos os livros já resenhados aqui, esse é um dos que eu mais recomendo para quem quer ler apenas por diversão, e, apesar disso, recebe hoje a nota mais baixa que já dei para um livro. Quem disse que as coisas precisam fazer sentido?

Nota do Elaphar: 8,0

Vou falar algo que não deve interessar a nenhum de vocês, mas vou falar assim mesmo! Meu exemplar é autografado pela própria autora para sua irmã Lana, que também aparece uma vez no livro, mas não tanto quanto as outras irmãs Lull e Laudi (coisa de pobre ter todas as filhas com a mesma inicial?). Não consigo entender como esse livro foi parar em um sebo, o que me faz imaginar por que motivos a irmã vendeu esse livro tão precioso. Por enquanto, só expeculações.

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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Piores Capas de Livros

Um velho ditado diz que "não se julga um livro pela capa", e isso é uma grande verdade, pois muitos livros excelentes podem estar embalados com uma capa horrível. Hoje vamos falar de algumas dessas capas.

Antes que comentem dizendo que livro tal é bom e etc..., minha visão aqui é puramente da capa dos livros e não de seu conteúdo. Um livro pode ter uma capa feia por muitos motivos: não combinar com o livro ou título, ser incompreensível, ser malfeita ou ser simplesmente feia. A maior parte dos livros são de língua inglesa (e dedicados ao público infanto juvenil). Outra coisa é que não considerei capas simples (apenas com o nome do autor e título ou formas coloridas no fundo) pois não são capas feias, somente não são bonitas.

Ah, e a inspiração para esse post foram os dois posts de capas feias de discos que fiz no meu outro blog (vol.1 e vol.2, e em breve o 3), o post do blog do Amer de piores capas de jogos (também vol.1 e vol.2), e também os frequentes posts de capas do blog Literalmente Falando. Minha frustração é que em capas de livros, as pérolas do mau gosto são muito mais raras que em capas de discos e em capas de jogos, mas por sorte elas existem. Agora, ao trabalho!!! As 5 primeiras são colheres de chá, e as outras são beem feias.

Dom Casmurro - Machado de Assis (trad: John Gledson)
Normalmente, não acharia essa capa feia, mas ela possui um probleminha.... é do livro Dom Casmurro de Machado de Assis... E QUE PORRA DOM CASMURRO TEM A VER COM UM CAIPIRA TOCANDO VIOLA EM CIMA DA JANELA. Desculpem pelo meu excesso, mas não resisti. Isso me leva a crer que os responsáveis pela capa nem ao menos leram o livro, e só sabiam que o personagem principal era brasileiro, e isso foi tudo que conseguiram pensar. Nem quero imaginar que a moça gorda da direita é Capitu, é deveras desagradável. Como John Gledson permitiu uma capa dessas?

Noites de Tormenta - Nicholas Sparks
Essa capa não é feia, essa é a verdade, muito pelo contrário, é bem bonita. Mas qual o problema então? O que uma noite de tormenta tem a ver com essa belíssima imagem do casal (aparentemente no deserto) à luz do sol? Acho que ele deveria entrar em piores traduções de livros e não em piores capas, pois a capa tem muito mais a ver com o livro do que o título brasileiro (ou melhor, eu acho, pois não li o livro). De qualquer forma, essa luta entre o título e a capa é deveras incômoda.

Company - Max Barry
Disse que não ia colocar capas simples, mas essa aqui não é só simples. Também é feia e malfeita, pois a iluminação refletida é desagradável entre outros pequenos detalhes. Em suma, é uma capa feia.

Imortal Image - Jaye Roycraft
Nessa capa tudo é meio feio: os fogos, a caveira, o cara no fundo, e até mesmo a letra é feia e briga com a capa. Podiam ter caprichado mais nessa capa, com toda a certeza.

The Ninety Trillion Fausts - Jack l. Chalker
Eh... Primeiro o nome do livro, parece que saiu aleatoriamente, e a autora pegou o maior número que conseguiu pensar e jogou no título. Outro é a capa em si, com aquela luz no fundo (seria a silhueta de um olho?) com uma criatura feia (não feia para o padrão de monstro, mas sim feia no padrão artístico, isso é, malfeita) e uma escada que ruma para a luz passando pela criatura. Não sei vocês, mas não tive vontade de comprar um livro com essa capa.

The Blue World - Jack Vance
Fim da colher de chá! Esse monstro é feio (artisticamente falando é claro). A capa é tão carismática quanto uma lata de picles (se bem que as vezes, uma lata de picles é bem carismática)!!!

 Children Are No Match For Fire - Carol Dean (ilustrações de Sandra Dunn)
Ah, sim!!! Livros infantis!!! Me lembram a época que eu pagava livros na biblioteca mas nunca lia-os porque preferia jogar video game. Bons tempos, bons tempos!!! Só que essa capa? O que há de assustador em esqueiros e velas? E as crianças parecem estar correndo deles!!! Digo "parecem" porquê nada comprova isso, pois basta prestar mais atenção na imagem que não fica claro que as crianças estão correndo (e além disso devem ter problemas ósseos). E a cara de espanto das crianças??? Mon Dieu, vamos pra próxima.

Daggers of Darkness - Steve Jackson and Ian Livingstone
Esse livro é um RPG, ou seja, um livro-jogo (da série Fighting Fantasy). Não ganhou traduções no Brasil, embora a industria editorial brasileira seja razoavelmente boa. Talvez por ser um RPG bem medíocre (no sentido original da palavra, por favor). Talvez por ter capas horríveis como essa! Tem uma capa dessa série que tem um guerreiro "cavalgando" ursos polares!!! Nessa ele está usando dois tigres nadadores puxando-os com correntes(!), e sendo perseguido por uma águia (ou é mascote dele... sei lá). A arma que o guerreiro usa é super prática também, o que me faz perguntar se ele não usa ela para golpear os tigres, pois é a única utilidade que vejo para ela nesse estado sem o risco dele acertar as duas bolas nele mesmo pelas costas (sem conotações sexuais por favor). Pelo menos o cara da imagem tem muita testosterona, isso deve valer para alguma coisa.

Inferno - Mark Smith and Jamie Thomson
Mais um transporte inusitado! Agora um calangão!!! O guerreiro não parece (pela sua cara e posição) que está enfrentando o lagarto aí, e a espada parece ter sido enfiado por engano quando o guerreiro decidiu posar para a foto (pelo menos me parece mais aceitável). Dá pra ver pela cara de espanto do bicho aí.

Ma! There's Nothing to Do Here - Barbara Park
Essa capa só me lembra uma coisa... Alien o filme!

Exercícios de Estilo - Luiz Pacheco
Não consigo entender qual é a dessa capa! Esse conjunto de elementos são ridiculamente divergentes entre si. Não li o livro, e talvez esses elementos são explicados no livro, o que eu duvido.

Amor de Salvação - Camilo Castelo Branco
Temos que admitir que essa capa é engraçada!!!

De Boas Ereções Está o Inferno Cheio - Dick Hard
Eh... não tenho coragem  de falar nada dessa aqui! Nem preciso, a piada já está na capa!

The Rifleman (Comix)
Essa a piada não está tão na cara assim, ou melhor, está! Ou você não percebeu a tora enorme na frente do... Pois é!!!

Karen's Worst Day - Ann M. Martin
Feia, simplesmente isso! Não tenho que me explicar de escolher essa capa.

The Frozen God - Richard Kirk
Esse livro é um livro padrão de literatura fantástica, mas tem um probleminha... ele é indicado para pessoas de oito anos ou mais... Que droga, essa capa é praticamente PORNÔ para uma criança de 8 anos.

O Primo Basílio - Eça de Queirós
A uns meses atrás eu tinha a editora Nova Cultural em alta conta... pois é, eles transformaram o Primo Basílio em um romance barato... por mais que você pense que essa capa é ridícula, não consegue ser pior que a sinopse da contracapa: "Luísa é uma jovem entediada [sic] com o casamento com Jorge. Um pacato engenheiro [sic] na Lisboa do século XIX. A solidão e os livros românticos devorados [sic] durante as longas ausências do marido, preparam o espírito de Luísa para viver um tórrido caso de amor com um parente distante, recém chegado a Portugal: o primo Basílio, rico, galante e devasso [sic] (...)".

Mayhem and Maddie - Dakota Cassidy
Eh!!! Não me sinto à vontade de falar alguma coisa dessa aqui!!!

Breed to Come - Andre Norton
POR QUÊ ESSE GATO ESTÁ AÍ? Sério? E os carinhas verdes são astronautas ou aliens? É impressão minha ou TUDO é verde (exceto o gato, é claro).

A Religiosa - Diderot
Essa não foi nem um pouco engraçada! O que fizeram com Diderot? Ele provavelmente se suicidaria se visse um livro seu com uma capa dessas (se não estivesse morto, claro).

Unanswered Prayers - Penny Richards
Essa era para ser romântica! Digo "era" porque nada consegue ser romântico em cima de um... Tá, vocês já sacaram.


Por hoje é só! Amanhã posto capas ainda melhores que essas (se bem que "melhor" em uma postagem desse tipo é uma honra meio duvidosa)!!! Tenho ainda vários livros para postar, mas em breve faço isso.

sábado, 20 de novembro de 2010

Anima Animus: o decote de Vênus - Gilson Cavalcante

Gilson Cavalcante é um jornalista e poeta do Tocantins, que reside em Taquaraçu. Não é um escritor muito conhecido, o que por um lado, pode ser justificado pelo estado onde mora, pois (é uma pena) não conheço muito poetas e escritores Tocantinenses, e não há nenhum (ao que eu saiba) no grande cânone brasileiro. Outros estados também são lesados de conhecimento nacional, por exemplo Acre e Roraima. Além do "Anima Animus: o decote de Vênus", Gilson Cavalcante lançou outros livros de poesia: 69 Poemas dos lençóis e da carne, Lâmpadas ao abismo, Re-inventário da paisagem, Poemas da margem esquerda do rio de dentro, e O bordado da Urtiga (esse em especial será resenhado em breve). Ganhou uma série de prêmios literários no Brasil, e o mais importante talvez tenha sido o Prêmio Cidade de Juiz de Fora em 2002 com o livro Poemas da margem esquerda do rio de dentro (o dia que eu conseguir esse livro SE eu consegui-lo, resenho).

A primeira coisa que chama atenção no livro é o projeto gráfico que é extremamente bem feito, o que é bastante interessante já que a edição desse livro não conta com o auxílio de uma grande editora, mas o projeto gráfico do livro é tão bom que por si só já vale a pena sua compra. O livro não possui lombada, o que é não é necessário, já que é um livro pequeno.

A capa é uma beleza, o que jurava ser improvável, pois a grande maioria das capas de livro amarelas são feias (exceções a essa regra são as capas mais simples ou que só contenham o nome do autor e da obra). As ilustrações de Maíra Bellini não aparecem apenas na capa, mas o livro todo é ilustrado nesse modelo de desenho estilizado e P&B, porém muito bonito, e muitas ilustrações (por exemplo a da página 11) são perfeitas e combinam com a poesia da página. O texto dentro do livro é bem colocado, não ficando muito próximo do corte nem afastado demais, harmonizando-se com a página e as ilustrações. A única crítica fica com a numeração da página que é muito grande e fica na parte de cima, mas isso é apenas por gosto pessoal mesmo, e não porque o projeto gráfico é deficiente.

Quanto aos poemas contidos no livro, há um leve teor erótico, porém sem jamais ser pornográfico, há uma diferença bem clara entre poesia erótica e pornográfica (esse link é para uma poesia pornográfica, se você não gosta não clique, e se você é um tarado(a) talvez pode preferir esse aqui, agora chega de pornografia, pois Gilson Cavalcante não tem nada a ver com esse tipo de texto, ou melhor, as vezes tem).

O mais interessante do livro Anima Animus, são os jogos de personagens femininas pagãs e cristãs (mas NÃO aparece Vênus em nenhuma poesia), sendo que Eva de Adão e Penelope Vlixi são as mais reincidentes. O primeiro poema do livro é um culto à Eva (assim como fez Ovídio à Penelope), e é dividido em duas partes, e é um excelente poema, assim como muitos do livro. Além de Eva e Penelope, há diversas outras personagens utilizadas de ouros autores como Amélia (de Mário Lago e Ataulfo Alves), e diversos outros nomes, que participam de jogos diversos jogos semântico-semióticos, alguns de bom gosto, outros não.

Há, entretanto, nesse livro, alguns poemas de gosto extremamente duvidosos ou de beleza poética questionável. Alguns por não possuírem beleza e serem poemas praticamente "abortados" (forçados a vir a luz) como é o caso de Senha. Isso entretanto é perdoável pois muitos grandes poetas já fizeram muitas vezes a mesma coisa (e em muitos casos com muita frequência), dentre eles Max Martins, Manuel Bandeira, Carlos Drummond e etc... Outra coisa é a característica própria de livros de poesia, que nunca têm 100% de poesias que o leitor aprova, e todo o leitor de poesia desgosta de pelo menos uma poesia do livro (exceto o que escreveu, talvez), e o livro que mais chegou perto da perfeição (na minha visão como leitor) foi o "Eu e outras poesias" de Augusto dos Anjos.

Como avaliação final, digo que esse livro de Gilson Cavalcante me agrada, pois é um culto às mulheres de todas as formas possíveis, de todas as caras. Gilson trata da vaidade feminina e da beleza, sem contudo deixar suas mulheres "pobres" em sua poesia. Aparecem mulheres de personalidade forte. Muitas poesias são boas (outras claro, não me agradaram, o que não significa que são ruins). É um livro que vale a pena ser comprado e lido. Esse livro também prova que um bom projeto gráfico melhora e muito a qualidade e poder de atração de um livro (enquanto a coleção Biblioteca Borges da Companhia das Letras prova que um bom projeto gráfico atrai vendas)

Nota do Elaphar: 8,3

Edição Lida:
CAVALCANTE, Gilson. Anima Animus: o decote de Vênus. Palmas: S/E, 2009, 56p.

BÔNUS
Renúncia e arrependimento

Em Penélope, a renda.
Em madalena, o arrependimento.

Quem com o fio tece
a arte do acontecido
não se perde ou esquece
a cor da vida no vício.

Arrependida, Madalena confia
a Penélope suas melenas:
tranças des(a)fiando renúncia.

Madalena doidivina
saiu fora da linha.
Nem por isso atira pedras,
vive de enfiar as lágrimas
dentro da agulha fina.

Pecado Primordial (I)

Sou Eva
a viva flor primeva
a que desceu do paraíso
a par do que precisa
consertar.

Sou Eva
doida doída
doidivana doidivina
a que se dividiu na dor
parindo outras dores.

Fui Eva
de cama mesa banho
meu corpo não tem tamanho
e cabe na cama de asoecer
os homens.

Sou Eva
e trago o pecado
na carne hipocondríaca
contorcida entre costelas.

A serpente entretelada
de estrelas.

O amor de Rosa

Rosa feriu-se
por conta de amar
desesperadamente.
Amou tanto que ficou
demente.

A cabeça fora do lugar
deslo(u)cada no tempo.
Tronco, membros
removidos ao vento.

Rosa, triste
murchou. Seu nome
espetado no espinho
despetalou-se.

Rosa sem carinho.

Isso há de acordá-la
para set esta flor
ou a floresta
encantada.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Italo Calvino - O Barão nas Árvores

Já falei desse livro em outra ocasião, e cá eu estou aqui a falar de "O Barão nas Árvores" novamente. Já havia "lido" esse livro, mas como estava em italiano e não consegui entender quase nada, tive de lê-lo novamente e em português.

Ítalo Calvino é um dos maiores escritores italianos da história (e não venham me atormentar dizendo que ele nasceu em cuba. Se Calvino não é italiano Clarisse não é brasileira e ponto final), tá legal que além de Ítalo Calvino só li Dante e Humberto Eco. Se você não conhece a obra de Calvino, essa é a melhor oportunidade para ler um livro desse autor e expandir sua cultura para a literatura italiana.

O Barão nas Árvores (Il Barone Rampante no original ou O Barão Trepador na versão portuguesa) é um livro que conta a história de Cosimo di Rondò (Cosme de Rondó na versão em português, mas como li primeiro em italiano, vai ser difícil deixar de chamar Cosimo), filho do barão de Rondò, que se rebela e decide subir nas árvores para nunca mais descer, o que de fato acontece. Durante esse período em que Cosimo fica nas árvores (toda a sua vida), muitos episódios acontecem, e muitos personagens aparecem enriquecendo essa história principal com uma dezena de outras histórias.

Lastimavelmente, os vários episódios foram a minha maior perda quando "li" no original, e só agora consegui apreciar satisfatoriamente cada um desses episódios. Há a primeira saída de Cosimo no primeiro dia em cima das árvores, onde acaba conhecendo a marquesinha Viola, que é uma personagem importante em outros episódios mais a frente, e se ausenta em boa parte do livro.

Viola é talvez a personagem que mais amei no livro, e a que mais odiei também. Ela é cretina, ao mesmo tempo que de espírito evoluído. Faz o que quer, e manipula todos, desconstrói o racionalismo e a moralidade; Viola é talvez a personagem mais filosófica do livro, mais até do que o próprio Cosimo, e a mais amoral também, amoralidade essa que talvez seja um pré-requisito para a filosofia. Por falar em filosofia, Ítalo Calvino foi o primeiro a unir filosofia e literatura de uma forma a atrair o gosto dos mais jovens (antes mesmo de Joostein Gaarder, Yalom e outros), diferente de outros livros anteriores que são comumente tachados de chatos (como O Elogio da Loucura, A Peste ou Assim Falava Zaratustra). Em Calvino, a filosofia está sempre presente em cada parágrafo, episódio ou ação, sem contudo deixar o livro chato ou difícil de ler.

Dentre os episódios, um que possui grande destaque é o episódio do João do Mato (Gian dei Brughi no original, mas foi tão pouco marcante na primeira leitura que prefiro o nome brasileiro), que quando li em italiano tudo que consegui absolver foi que João era um ladrão que abandonou o crime pelos livros e foi enforcado, porém o episódio é muito mais belo e profundo que somente isso. Não quero explicar todo o episódio, e no lugar disso coloco apenas a cena da morte de João, que é uma das melhores cenas que já li em livros, ao lado da cena do Penteado (Dom Casmurro), da cena do Enforcamento de Desdêmona (Otelo) entre outras.
    O processo foi demorado; o bandido resistia ao cerco da corda; para fazê-lo confessar cada um de seus inúmeros crimes eram necessários dias e dias. Todo os dias, antes e e depois dos interrogatórios ficava escutando Cosme, que continuava a leitura. Terminada Clarisse, sentindo-o um tanto triste, Cosme achou que Richardson, para quem está preso, talvez fosse meio deprimente; e preferiu ler para ele um romance de Fielding, cujo enredo movimentado lhe compensaria um pouco a liberdade perdida. Eram os dias do processo, e João do Mato só tinha cabeça para os casos de Jonathan Wild.
    Antes que o romance fosse concluído, chegou o dia da execução. Na carroça,  acompanhado por um frade, João do Mato fez sua ultima viagem como ser vivo. Os enforcamentos em Penúmbria eram feitos num alto carvalho no meio da praça. Ao redor, o povo fazia um círculo.
    Já com a corda no pescoço, João do Mato ouviu um assovio entre os galhos. Ergueu o rosto. Descobriu Cosme com o livro fechado.
    - Conta como termina - pediu o condenado.
    - Lamento dizer, João - respondeu Cosme - , Jonas acaba pendurado pela garganta.
    - Obrigado. O mesmo aconteça comigo! Adeus! - E ele mesmo deu um pontapé na escada, enforcando-se.
João do Mato é importante por toda a vida de Cosimo, assim como todos os acontecimentos e personagens do livro.

Por fim, O Barão nas Árvores é o segundo livro de uma trilogia composta por O Cavaleiro Inexistente e O Visconde Partido ao Meio, que também estão disponíveis em português pela Companhia das Letras e com tradução de Nilson Moulin. Agradeço ao profº Carlos Dias (UFPA) por me apresentar esse magnífico livro (e amaldiçoo-o por afirmar que era escrito em um italiano "fácil" de ler para quem não conhece a língua).

Nota do Elaphar: 9,8

Edição Lida (ita):
Calvino, Italo. Il Barone Rampante. 1ª Ed. Verona: Arnoldo Mondadori Editore, 1993.

Edição Lida (pt-br):
Calvino, Italo. O Barão nas Árvores. Trad: Nilson Moulin. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

Meu ritmo de postagem está meio fraco agora, mas espero melhorar em breve.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Stephen King - Carrie, A Estranha

Stephen King é talvez o mais bem sucedido escritor vivo, possuindo uma grande recepção de leitores (leia-se "vendas") e uma boa crítica (entre leitores, jornais e até na academia). Ironicamente, nunca havia lido um único livro dele, e "Carrie, A Estranha" foi o primeiro (lido pouco depois do dia das bruxas), e agora vou comentar essa experiência. Para quem é alienado não conhece, Stephen King é o criador de livros e contos adaptados para o cinema como: A Espera de Um Milagre, Vôo Noturno, A Colheita Maldita, 1408, e Carrie, a Estranha, sendo que a "Colheita" e "Carrie" tiveram remakes. Além das obras adaptadas, Stephen  escreveu o famigerado "O Iluminado" e a saga de sete volumes "A Torre Negra". Você pode não ter lido nenhuma dessas obras (como eu), mas não conhecê-las (ao menos uma delas) é bem difícil.

Vou ser sincero com todos vocês, decidi ler Stephen King após sua declaração dizendo o seguinte:
<<The real difference is that Jo Rowling is a terrific writer and Stephenie Meyer can't write worth a darn. She's not very good>>
Não concordando nem discordando de Stephen, mas admito que gosto das brigas entre escritores, sendo que Nietzsche já atacou George Sand, Machado de Assis já atacou Eça de Queirós (e Vargas Llosa literalmente atacou Garcia Marquez (com um soco na cara mais precisamente)). Acho que isso é produtivo para a literatura. Ou não.

Agora, falando sobre o livro, a própria capa já chama atenção, sendo uma excelente capa. O título da obra (Carrie, a Estranha) é tradução do original que chama-se Carrie...   ...   ... O que me deixa a pergunta de: QUEM FOI O IMBECIL QUE COLOCOU O "A ESTRANHA" NO TÍTULO??? É verdade que é uma mania dos tradutores dar o seu "toque pessoal", mas não acho que o título deveria ser alterado dessa forma... Pelo menos é melhor do que o que fizeram com "Memórias Póstumas" em língua inglesa (Epitaph of a Small Winner) ou o que fizeram com "Nights in Rodanthe" em língua alemã (Das Lächeln der Sterne). Creio que esse "a Estranha" está aí por conta do filme (que foi publicado primeiro no Brasil), e é extremamente natural essas mudanças grotescas ou acréscimos de "subtítulos" nas traduções dos títulos. Claro, que após ler a ficha catalográfica e conferir a diferença do título, minha animação quanto ao livro ficou bem fraca, mas posso dizer que me surpreendi.

O primeiro ponto positivo no livro, é o seu nível de realidade. Quem já leu o livro pode ficar perguntando: Que diabos uma história sobre poderes telecinéticos pode ter de real??? A resposta é simples... uma menina criada sob preceitos religiosos extremos acaba dizendo para sua mãe: "Sua FODIDA"!!! Isso mesmo, uma menina de 17 anos usa linguagem de estivador... Não venham bancar os puritanos, todo mundo sabe que essas palavras são usadas pelas pessoas em idade escolar, e até mesmo a melhor garota da escola (Susan) usa palavras do tipo. E a moral é bem presente no livro, pois o pai de Cris ameaça entrar em um processo contra a professora pois ela usou a palavra "escroto", como se as meninas (e principalmente a filha dele) não conhecesse a palavra. E além disso ainda tem o Bullying contra a Carrie, que é recorrente durante toda a obra. Esse fidelidade no português indica (mas não afirma, pois não li o original, e nem pretendo ler) que é uma boa tradução, apesar do título; claro, que há a pequena gafe de traduzir o nome da música "Pomp And Circumstance" de Elgar (popularmente conhecida como: Música de Formatura), pois, os brasileiros que conhecem essa música pelo nome, em geral, conhecem em inglês mesmo, além do fato de que NOMES NÃO SE TRADUZEM.

Outro ponto que eu achei muito interessante e criativo, foi cruzar a narrativa com fragmentos de supostos livros e documentos sobre o caso "Carrie White", sendo que as informações divergem entre os documentos e a narrativa.

Agora, quanto a história...
Alerta!!! Esse texto pode conter spoilers como o fato de que Carrie destrói a cidade e mata todos os que a humilhavam ou que os sobreviventes decidem abandonar a cidade. Agora que você já sabe disso, pode continuar lendo o texto sem preocupações.
Uma história que extasia e assusta, essa é a melhor descrição possível para essa história, que sabiamente está presente na 4ª capa (não com essas palavras). Muitos pontos desse livro são sinistros, como o fanatismo religioso da Sra. White, e seu Deus vingativo e destruidor, suas crenças e o sangue de Jesus escorrendo do crucifixo no centro da casa. O comportamento animal (e real) dos seres humanos também pode assustar, mas não mais que os poderes e pensamentos de Carrie, que com sua confusão podem varrer sua pobre cidade do mapa, o que de fato fez.

A narrativa é longa e lenta, porém interessante, com suas idas e vindas e seus trechos de documentos, livros, pichações e até mesmo folhas de cadernos. Os pensamentos das personagens são "jogados" no meio dos parágrafos, e o desfecho trágico, embora sempre previsível (já que nas primeiras páginas já se cita a tragédia envolvendo o TC de Carrie), surpreende por alguns fatores e ainda assim mantém todo o seu drama. Muito bom também é a terceira (e última) parte do livro, intitulada "Escombros", onde apenas os documentos e livros falam (não mais a narrativa tradicional) e mostram o pós "Dia do Baile", e as marcas permanentes em todos, que fazem a cidade parecer uma grande necrópole de vivos.

Concluindo, considero o livro (e a tradução de Adalgisa Campos da Silva) de boa qualidade (apesar da tradução do título), assim como a qualidade editorial da Objetiva (com o selo Ponto de Leitura), e acho que quem não ainda não leu esse livro, está perdendo uma literatura de qualidade.

Nota do Elaphar: 9,1

Edição Lida:
King, Stephen. Carrie, a estranha. Trad: Adalgisa Campos da Silva. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. (Selo Ponto de Leitura)
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