sábado, 30 de outubro de 2010

H.P. Lovecraft - A Tumba e Outras Histórias

O dia das bruxas (Halloween) está chegando, e nada melhor nesse dia que ler um livro. Eis que apresento "A Tumba" de Howard Phillips Lovecraft.

Para quem não conhece, H.P. Lovecraft é quase um "Deus" dos contos de terror, foi influenciado por Poe, passou a ser influência básica de todos os escritores que seguem essa linha, como por exemplo Stephen King e Borges. Além da literatura, Lovecraft influenciou muito o cinema e música, essa última, bandas como Black Sabbath, Iron Maiden, Metallica (The Call of Ktulhu e All Nightmare Long) e Adagio (R'lyeh the Dead). Pessoalmente, conheci Lovecraft no RPG, na época em que jogava The Call of Cthulhu.

Não é a toa todo esse nome na literatura de horror, pois, ao ler "A Tumba e Outras Histórias" sentimos um clima denso e sinistro a partir da leitura. Muito bom livros da época em que monstros eram monstros, e vampiros não brilhavam no sol.

O primeiro conto, que dá nome ao livro, é denso e carregado de loucura (característica importante da obra lovecraftiana) e mistério. A narração em primeira pessoa é extremamente perturbadora, pois, o narrador está internado em uma clínica psiquiátrica e não há garantias da completa destruição de sua sanidade mental. Mesmo se o relato do narrador for verídico (o que é possível na narrativa), o que presenciou é o suficiente para transformar seu cérebro em massa gelatinosa.

O segundo conto, também narrado em primeira pessoa, chama-se "O Festival". Nesse conto, percebe-se muitas características de Poe (principalmente em "The Raven"), desde o clima sombrio, ao excesso de adjetivos, até os "tomos de ciências ancestrais". A sabedoria e a tradição são as mais sinistras possíveis nesse conto, e as descrições dos ambientes e das criaturas são muito fortes.

Já o 3º conto (Aprisionado Com os Faraós), há uma nítida divisão em duas partes. A primeira, é alegre, apresentativa (existe isso?) e uma grande aula sobre o Egito (sejam verdadeiros os fatos ou não), assim como a primeira metade do livro Mobby Dick (que possui uma verdadeira aula sobre baleias). Essa primeira parte, é bastante longa, mas ainda assim interessante. Quando a segunda parte começa, começa o incrível, o onírico e a loucura.

Em "Ele", o quarto conto do livro, há um jogo interessante com o tempo e as artes secretas. O quarto conto por sua vez, chama-se "Horror em Red Hook", e é um conto policial (em terceira pessoa), onde a investigação se mistura a forças demoníacas, entidades secretas, mistérios insolúveis, barbaridades e é claro, a loucura. Em Red Hook o mal está além do que pode ser eliminado, e está enraizado na terra.

"A Estranha Casa que Pairava na Névoa" é um grande conto, que, embora não tenha o horror presente nos contos anteriores, possui um jogo com o incrível, assim como o próximo conto (Entre as Paredes de Eryx), que também não é de terror, mas espacial. A narrativa de ficção científica não é o "Forte" de Lovecraft, entretanto, esse conto é muito instigante e reflexivo. Há muito o que pensar em "Entre as Paredes de Eryx", mas acima de qualquer coisa, é um conto divertido e bom de se ler. O último conto por fim, que chama-se "O Clérigo Diabólico", é misterioso e sinistro.

Além desses contos, "A Tumba e Outras Histórias" conta com mais cinco contos ditos "imaturos" de Lovecraft e mais quatro fragmentos (ou contos incompletos). Dentre os primeiros contos (os "imaturos"), alguns surpreendem, sendo que o conto "A Fera na Caverna" pode ser considerado até como o melhor conto do livro, enquanto "Poesia e os Deuses" é extremamente moderno e inovador, com um jogo de misturas e reflexões sobre a arte de escrever. O conto "A Rua" me lembra muito "Ícaro, Icarus" do escritor brasileiro Alfredo Garcia, até mesmo em sua estrutura, o que me faz pensar se Alfredo também não é um influenciado de Lovecraft (o que é estranho, levando em consideração que o escritor brasileiro escreve muito infanto-juvenil, mas acho que estou divagando). Não quero comentar sobre os fragmentos, pois são incompletos, embora alguns mereçam comentários longos.

A obra de Lovecraft é vasta e interessante (e em parte assustadora), e a tradução de Jorge Ritter é de grande qualidade (independente do original, pois, minha preguiça me impediu de ler os textos originais), e a única crítica possível seria quanto às poesias, que foram traduzidas apenas em seu sentido e não em sonoridade (metro e rima), como pode ser observado na tradução de: "Pile each on your platter a mountain of beef,/ For'tis eating and drinking that brings us relief;" para: "Abarrotem suas travessas com uma montanha de carne/ Pois comer e beber é o que nos traz alívio", mas não acho que esse ritmo de prosa seja prejudicial à leitura, e além do mais, o original aparece em nota de rodapé.

Por fim, a qualidade da edição é muito boa (marca da L&PM, que cada vez sobe mais no meu conceito), o que pode ser visto desde a capa que possui o clima sombrio que o livro merece, mostrando que os livros de bolso podem sim ter qualidade a preços baixos. Só achei que faltou pelo menos um conto da parte Chthuliana da obra de Lovecraft, mas há também "O Caso de Charles Dexter Ward" que também foi publicado pela mesma editora.

Como Lovecraft pertence ao domínio público, sua obra está disponível aqui (em inglês) e aqui (em português).

Nota do Elaphar: 9,0

Edição Lida:
LOVECRAFT, H.P. A Tumba e Outras Histórias. Trad: Jorge Ritter. Porto Alegre: L&PM, 2010, 224p. (Coleção L&PM Pocket)

Como falei hoje da L&PM que subiu no meu conceito, outra hora falo de uma editora que caiu em conceito.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Luís Fernando Veríssimo - Clube dos Anjos

"Si recte calculum ponas, ubique naufragium est" - Petronius
Conheço Luís Fernando Veríssimo de longa data, e admiro muito seu trabalho como cronista, até citei um livro seu aqui e disse que ele é o melhor cronista de humor brasileiro. O que eu até um tempo não sabia era de sua qualidade como romancista.

O livro "O Clube dos Anjos" da coleção "Plenos Pecados" (coleção que pertencem os livros: "A Casa dos Budas Ditosos" e "O Voo da Rainha"), é um tributo à gula, o pecado mais pleno de todos, pois a visão acaba, o sexo acaba, mas a fome sempre continua (palavra de Ramos).

A narrativa começa falando sobre Lucídio, um personagem chave da narrativa, que é descrito como assassino, e o crime como real e não fictício. Há uma interessante teoria sobre os crimes reais e fictícios aí, que apesar de teoria é divertida (característica de Veríssimo). Começa-se a descrição do crime, e após isso a descrição do clube (as vítimas). Os personagens nesse livro são todos muito esquisitos e caricaturados. Os membros do Clube dos Anjos são todos "outsiders" de sua sociedade. A personalidade de cada um é hilária e a forma que se comportam é bizarra (é impressão minha ou eu tenho usado muito essa palavra no blog ultimamente?). De todos os personagens do livro, o que eu mais gosto é o Samuel, o que mais detesta todos e o que mais os ama, o que morre por último mas o que já estava morto desde o início, o mais erudito e mais ignorante. Samuel é um paradoxo.

Outros personagens do Clube são André, Pedro, Paulo, Ramos (a narrativa já começa com esse personagem morto, mas recapitula sua participação no grupo, já que é um personagem chave), o narrador Daniel e outros. É interessante a metafísica e os assuntos sérios presentes no livro ao mesmo tempo do humor. A erudição está acompanhado do popular, desde citações em latim e comidas francesas (como o Canard à l'orange), até o picadinho com ovo e ofensas baratas.

É interessante a presença da fome e do prazer na comida, sendo que todos a comem, mesmo sabendo que estava envenenada e quem iria morrer em cada cerimônia (tá legal, o primeiro não sabia, mas não se aplica aos outros), mas nenhum resiste ao pecado da Gula, e todos vão sucumbindo um a um, exceto o narrador (até o momento da narrativa), que está escrevendo a história bêbado de vinho em uma máquina. É interessante a reflexão quanto à morte certa e entregar-se ao veneno, e é muito interessante a vida decadente de cada um, que explica (em parte) o motivo dessa eutanásia orgiástica.

O final da obra é engraçada e ao mesmo tempo interessante. Nos deixa pensar o que acontecerá com Daniel, Lucídio e o possível negócio? (é melhor eu não falar mais nada, risco de SPOILER).

O que é mais importante desse livro é que junta a diversão com o conhecimento, e mesmo com os repentes de erudição dos personagens, tudo é explicado (desde as frases em latim quanto as citações) no próprio texto, sem ter de consultar as terríveis notas de rodapé. Entretanto, há alguns pontos fracos e desnecessários no livro, o que afasta ele um pouco do excelente, mas não quero citá-los pois há muita coisa boa nesse livro que ofusca seus defeitos. É um livro que recomendo, que lhe obrigará a pensar e refletir... e você adorará isso.

Ah, já ia esquecendo! Se quiser saber o que significa aquela frase lá em cima (abaixo da capa do livro), compre o livro, ele explica (como se não existisse o google).

Nota do Elaphar: 8,7

Edição Lida:
VERÍSSIMO, Luís Fernando. O Clube dos Anjos. Rio de Janeiro: Objetiva, 1998, 130p. (Coleção Plenos Pecados)

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Clarice Lispector - Laços de Família

Clarice Lispector é uma das mais importantes escritoras brasileiras (mesmo tendo nascido na Ucrânia). Ganhou duas vezes o prêmio Jabuti e é considerada por muitos como a maior romancista do Brasil com romances marcantes como: "A Paixão Segundo GH" e "A Hora da Estrela". Morreu no final da década de 70, no Rio de Janeiro.
Embora Clarice tenha ganhado renome no romance, é no conto (segundo minha humilde opinião) que ela mostra todo o seu potencial inventivo e todo o poder de sua escrita. Considerando isso, "Laços de Família" é talvez a sua maior obra.

Para percebermos a genialidade da autora, é bom remontarmos o período literário em que ela viveu. A literatura era predominantemente denominadas como regionalista (e como isso não é um tratado científico, não vou perder meu tempo analisando todas as implicações desta palavra, embora eu não concordo com o seu uso), sendo que os grandes escritores dessa época descreviam em suas obras o ambiente destrutivo dos personagens e as condições de vida de seus personagens. Os maiores nomes desse período são: João Guimarães Rosa (MG) e Dalcídio Jurandir (PA), ambos ganhadores do Prêmio Machado de Assis pelo conjunto da obra, e ambos extremamente estudados até hoje no Brasil e no exterior.

Em Clarice Lispector o foco narrativo é outro. O texto de Clarice mostra o quotidiano, entretanto, o quotidiano de Clarice é metafísico, e nos faz refletir sobre o nosso próprio. Em "Laços de Família", os personagens que estão ligados por seus laços familiares estão enredados uns aos outros e têm seus conflitos existenciais mostrados na narrativa.

Em "Devaneio e embriaguez duma rapariga", a esposa sonhadora fica a devanear no momento em que se encontrava sozinha em casa, e em uma festa, fica enciumada com a beleza de outra mulher, até chegar em casa e repensar sua condição de mulher, sua sensualidade e o desejo que pode provocar nos homens. É um conto muito bom, e carrega consigo algumas reflexões, porém é logo ofuscado pelo conto "Amor" que vem em seguida. "Amor" é talvez o melhor conto da literatura brasileira da década de 50 até os dias de hoje (há alguns melhores anteriores, como Teoria do Medalhão, Adão e Eva e Missa do Galo de Machado de Assis), e foi o primeiro conto de Clarice que li (ano passado em uma palestra sobre Guimarães Rosa). "Amor" é cheio de implicações existencialistas e de ordem social, nos faz pensar sobre vários aspectos da vida e sobre a condição social (imposta?). Tudo em "Amor" é motivo para reflexão, e todas as ações aos nossos olhos "comuns", ganham um ar de de magnífico nas mãos de Clarice. Não quero estragar a leitura falando a história desse conto, entretanto, fica aqui dois trechinhos para dar água na boca:

"O que sucedera a Ana antes de ter o lar estava para sempre fora de seu alcance: uma exaltação pertubada que tantas vezes se confundira com felicidade insuportável. Criara em troca algo enfim compreensível, uma vida de adulto. Assim ela o quisera e escolhera" (p. 20)

"E como uma estranha música, o mundo recomeçava ao redor. O mal estava feito. Por quê? teria esquecido de que havia cegos? A piedade a sufocava, Ana respirava pesadamente. (...) O mundo se tornara de novo um mal-estar. Vários anos ruíam, as gemas amarelas escorriam." (p. 22)

Após "Amor", vem outros contos interessantes como "Galinha", que é divertido, porém não perde a seriedade temática do livro. "A Imitação da Rosa" é outro conto genial que nos dá muito a refletir sobre a perfeição e sobre o Egoísmo x Comportamento social. "Feliz Aniversário", o conto que se segue, é talvez o mais famoso de Clarice, pois está presente em mais 3 livros de contos que tenho aqui em casa, também é muito bom, e me lembra o pensamento de Nietzsche em seu "Assim Falava Zarathustra", onde o filósofo diz que não é só reproduzir ou procriar uma criatura inferior, porém criar sempre algo mais. As queixas do filósofo são as mesmas da D. Anita, há um quê de Darwin no conto. Mesmo sendo mais famoso, considero "A Imitação da Rosa" muito mais interessante em todos os sentidos (literariamente, filosoficamente e esteticamente).

Outros contos do livro que merecem muito destaque são: "A Menor Mulher do Mundo", "O Crime do Professor de Matemática" e "O Búfalo", onde mais reflexões animalescas estão presentes. As reflexões de "O Búfalo" são até um pouco assustadoras, mas não tanto quanto "A Menor Mulher do Mundo" se analisarmos a crueldade social. Misteriosamente, o conto que dá título a obra (Laços de Família) fica meio ofuscado no meio da obra, não sendo nem tão famoso, nem tão genial quanto outros contos do livro (mais ainda assim é um excelente conto, e ainda assim genial). Outros dois contos que me impressionaram foram "Preciosidade" e "Começos de uma Fortuna", esse último, por algum motivo que não compreendi direito, acabei me identificando com o personagem principal Artur (não, não passei pela mesma situação).

Por fim, fico feliz que as pessoas de língua inglesa possam ler esse livro, pois, foi traduzido por Giovanni Pontiero e está disponível parcialmente aqui e nas livrarias saraiva. Ainda não analisei essa tradução, mas espero que não haja nada de errada com ela.

Nota do Elaphar: 9,8

Edição Lida:
LISPECTOR, Clarice. Laços de Família. Ed. com base na 1ª ed. da Francisco Alves. Rio de Janeiro: Rocco, 1998, 135p.

domingo, 17 de outubro de 2010

Casa da Bibliofilia no Desafio Literário 2011

O blog Casa da Bibliofilia irá participar do desafio Literário de 2011, que tem como finalidade promover a leitura, fazendo com que os desafiados leiam e resenhem pelo menos 12 livros por ano. Levando em consideração que sou um bibliófilo e leio no mínimo 1 livro por semana. Acho que o desafio será fácil.

Para quem quiser saber mais, acesse o blog do desafio aqui.

As leituras devem seguir um roteiro, e pode ser escolhido até 2 livros reserva. Aqui vai minha lista:

Janeiro - Literatura Infanto-Juvenil
Titular: O Castelo nos Pirineus - Joostein Gaarder.
1º Reserva: Memórias do Quintal (Contos) - Alfredo Garcia.
2º Reserva: O Guia dos Mochileiros da Galáxia (GMG V.1) - Douglas Adams.
2º Reserva: O Grande Gatsby - F. Scott Fitzgerald

Fevereiro - Biografia e/ou Memórias (quase não acho nada...)
Titular: Diário da Ilha - Lindanor Celina.
1º Reserva: Memórias de Adriano - Marguerite Yourcenar (biografia literária).
2º Reserva: Apologia de Sócrates - Platão.
2º Reserva: Resistência - Agnès Humbert

Março - Romance épico
Titular: A Morte em Veneza - Thomas Mann.
1º Reserva: Hortência - Marques de Carvalho.
1º Reserva: Geórgicas - Virgílio (trad: F. de Castilho)
2º Reserva: Fernão Capelo Gaivota - Richard Bach.

Abril - Ficção científica (esse é o mais difícil de todos).
Titular: 20 Mil Léguas Submarinas - Júlio Verne (Comprar).
Titular: O Homem Bicentenário - Isaac Asimov
1º Reserva: O Restaurante no Fim do Universo (GMG V.2) - Douglas Adams.
2º Reserva: A Vida, o Universo e Tudo Mais (GMG V.3) - Douglas Adams (Comprar).
2º Reserva: O Guia do Mochileiro das Galáxias (GMG V.1) - Douglas Adams

Maio - Livro-reportagem
Titular: Papéis - Sultana Levy Rosemblatt.
1º Reserva: O livreiro de Cabul - Åsne Seierstad.
2º Reserva: Horror em Amityville - Jay Anson.

Junho - Peças teatrais
Titular: Eléctra - Eurípedes.
1º Reserva: The Two Gentlemen of Verona - Willian Shakespeare.
2º Reserva: Lição de botânica - Machado de Assis (e-book).

Julho - Novos autores
Titular: Tempos Férteis - Beatriz Moreira Lima.
1º Reserva: Tarefa - João de Jesus Paes Loureiro.
2º Reserva: Antologia Cidade Vol.2 - Abilio Pacheco (org.).

Agosto - Clássico da literatura brasileira
Titular: Contos Amazônicos - Inglês de Sousa.
1º Reserva: Esaú e Jacó - Machado de Assis.
2º Reserva: Lucíola - José de Alencar.

Setembro - Autores regionais
Titular: Marajó - Dalcídio Jurandir.
1º Reserva: A Terceira Margem - Benedicto Monteiro.
2º Reserva: Breve Sempre - Lindanor Celina.

Outubro - Nobel de literatura
Titular: Depressões - Herta Müller.
1º Reserva: O Lobo da Estepe - Hermann Hesse.
2º Reserva: Poesia - T.S.Eliot (trad. Ivan Junqueira).

Novembro - Contos
Titular: O Melhor do Conto Alemão no Século 20 - Rolf G. Renner e Marcelo Backes (orgs.).
1º Reserva: Sagarana - Guimarães Rosa.
2º Reserva: Horizonte Silencioso - Maria Lúcia Medeiros (Comprar).

Dezembro - Lançamentos do ano
Os livros dessa categoria serão escolhidos ao longo do ano.


Há algumas peculiaridades interessantes nessa lista. A primeira e mais visível é há pelo menos um escritor paraense em cada uma das categorias, exceto "Teatro", "Ficção Científica" e "Prêmio Nobel" (esse último por motivos óbvios), que é compensado em "Autores Regionais" e "Novos Autores". Outra característica é que eu coloquei na lista livros que eu jamais leria em outra ocasião (o que significa que o desafio cumpre o seu objetivo), como por exemplo "Lucíola" e "Fernão Capelo Gaivota". Há também um certo equilíbrio linguístico, possuindo escritores de língua inglesa, alemã, francesa, grega, e norueguesa, com pelo menos 2 escritores em cada uma. Há 3 escritores que aparecem mais de uma vez, e são Douglas Adams, Machado de Assis e Lindanor Celina. Outra curiosidade, é que alguns livros da lista são bizarramente grandes, como é o caso de "Marajó" e "O Melhor do Conto Alemão no Século 20", sendo que a lista de "Autores Regionais" possui 3 romances grandes. Acho que pelo menos um desses livros eu não vou ler (Horror em Amityville). Resta agora esperar para iniciar o Desafio Literário de 2011. Desejem-me boa leitura.

28/11/10: Primeira modificação efetuada. Saiu Marques de Carvalho e Platão, e entrou Agnès e Virgílio (em clássica tradução de F de Castilho e Odorico Mendes). Mais algumas modificações surgirão no meio do caminho.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

10° dia -Livro mais velho que você tem ou leu

Geórgicas/Eneida - Virgílio

O livro mais velho que possuo é o Georgicas/Eneida do escritor romano Virgílio. É uma obra essencial em qualquer biblioteca. Meu exemplar é de uma edição de 1949.


Minha edição:
VIRGÍLIO. Geórgicas/Eneida. São Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro: W.M.Jackson. 1949.

Assim encerro o desafio. Estou devendo duas resenhas esse final de semana.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

9° dia - Série de livros que você mais gosta

De todos os dias do desafio, esse com toda certeza é o mais difícil. Primeiro, pelo fato de eu analisar os livros individualmente e não gostar de analisar em série, pois a história pode até ser boa, mas se um livro for ruim, considero esse livro como ruim e pronto. Segundo, porque li poucas séries completas, sendo que nem dos Olimpianos nem dos Guia dos Mochileiros da Galáxia li nenhum, li somente um dos livros de Hary Potter (A Câmara Secrteta) e O Senhor dos Aneis (A Sociedade do Anel), e ainda me falta um da série A Divina Comédia (O Paraíso), da Tetralogia Amazônica (A Terceira Margem) e da Lindanor Celina (ainda me falta Estradas do Tempo-Foi) entre outros. Dentre as poucas séries que li incluem-se: Eneida (de Virgilio) e Metamorfoses (de Ovidio).

Mas decidi escolher uma série muito diferente para colocar como minha preferida, e escolhi:

Der Ring des Nibelungen - Richard Wagner
Algum leitor mais tradicional pode me dizer: "Peraí! Wagner não é livro é Ópera"? Aí que eu respondo: "Shakespeare não é livro, é teatro" aí você pode me perguntar: "Mas Wagner foi feito para ser cantado e tocado" aí eu respondo: "E Homero? E Carmina Burana?" Não há argumentos que me façam mudar de ideia de botar o "Der Ring" de Wagner como a maior série de todos os tempos, entretanto, há muitos argumentos para considerar essa obra como a sua melhor série.

Primeiro, se você gosta de Hary Potter e outras séries de fantasia medieval (Como Eragon, Dragonlance, Darksun, Tagmar ou os Olimpianos), pode ter certeza que foi graças a Tolkien, e Tolkien deve muito a "Der Ring" de Wagner.

"Der Ring des Nibelungen" é uma série de quatro narrativas (originalmente em óperas, publicadas em libretos) que contem as óperas "Das Rheingold" (O Ouro do Reno), "Die Walkürie" (As Valquírias), "Siegfried" (Siegfied) e "Göttendämmerung" (Crepúsculo dos Deuses). É uma "pequena" ópera de mais de 13 horas de duração e que é espetacular. "Der Ring" é tão importante, que é uma das primeiras (se não a primeira) ópera em que o libretista é o compositor.

A semelhança com Tolkien é incrível (levando em consideração que Wagner é anterior). As duas histórias são basicamente formada em três libretos/livros (Die Walkürie/A Sociedade do Anel, Siegfried/As Duas Torres, e Göttendämmerung/O Retorno do Rei), mais uma narrativa curta introdutória (Das Rheingold/O Hobbit), sem incluir "O Silmarilion" de Tolkien que é póstumo e nunca teve a intenção de ser publicado. Como já li "A Sociedade do Anel", sinto-me mais seguro de fazer a comparação com "Die Walkürie", que se segue:

Primeiro: A história se baseia em um anel superpoderoso, que pode dominar a todos (isso pode ser descoberto sem ler/ouvir a narrativa introdutora). Após isso, há a interferência de diversas raças não-humanas na história (Elfos, Anões e Hobbits em Tolkien enquanto Deuses, Gigantes e Nibelungos em Wagner). Tudo a partir daí ruma para o sucesso, considerando alguém como o portador das esperanças do grupo (Frodo Bolseiro em Tolkien e Siegmund em Wagner), sendo que a narrativa avança até...

que...

Tudo começa a ruir. Em Tolkien a sociedade se desfaz por conta da ambição de um humano, enquanto em Wagner pela moral divina. Enquanto ninguém mais é capaz de proteger Frodo, Sigmund morre pela lança do próprio pai, o deus Wotan (equivalente ao Thor nórdico). É incrível como até as esperanças para o próximo livro/libreto mantém-se, com a possibilidade de auxílio pelo resto da sociedade (Tolkien) ou pelo filho de Sieglinde (Siegfried) e o congelamento de Brünilde (Wagner). Só lendo as duas obras para ver como são semelhantes, fora o fato do próprio Tolkien ser fã da série de óperas de Wagner, e considerá-lo uma influência importante (a mais importante) para sua obra.

Claro, há diferenças, pelo fato de serem textos muito diferentes. Wagner é uma poesia trágica e Tolkien romance épico. Naturalmente, Tolkien destina sua narrativa para o sucesso, enquanto Wagner para o declínio dos heróis. A poesia (sim, Wagner é um verso) wagneriana é triste e dramática, assim como as grandes tragédias de Shakespeare ou Ésquilo, porém muito mais exageradas, pois tudo em Wagner é megalômano, desde a orquestração até o texto. Existe em Wagner passagens lindas, desde a famigerada "Cavalgada das Walkírias" (Die Walküries, 3º Ato, 1ª Cena: Hojotoho, heiaha) até a linda imolação e a marcha fúnebre de Siegfried (ambas de Göttendämmerung). Recomendo (pessoalmente) a versão de Karajan para o "Der Ring" de Wagner, pois o exagero de Karajan combina perfeitamente com o de Wagner.

Outras influências dessa obra: "Saint Seya" (Os cavaleiros do zodíaco) na saga de Posseidon; Ragnarök Online (em uma Skill do Bardo); Borges no livro O Aleph; jogo Valkyrie Profile (PS2), onde a personagem principal usa do "Der Ring des Nibelungen", Os Simpsons (episódio em que as valquírias descem do céu). Além disso, a obra virou filme, embora eu não saiba exatamente (pois não o assisti) se é baseado no "Der Ring" de Wagner ou se é baseado no "Nibelungenlied" do século XIII. "Der Ring" é baseada na saga dos "Volsungas e dos Nibelungos" e no "Nibelungenlied", que são mitos medievais da região germânica, o que equivaleria ao ciclo arturiano da literatura portuguesa (com "A Demanda do Santo Graal") ou a saga de "Belwulf" nas ilhas britânicas.

Se você quiser baixar o "Der Ring" por Karajan clique aqui. (Link do Blog pqpbach)
Se você quiser baixar o "Der Ring" por Solti ou Moralt clique aqui. (Link do Blog maisumadofalsario)
Se você quiser ter o acesso ao Libretto em portugês (traduzido) e alemão, clique aqui.
Se você quiser comprar "O Livro de Ouro da Ópera" (de Milton Cross) ou "O Anel dos Nibelungos em Romance" (de A. S. Franchini e Carmen Seganfredo) na estante virtual, clique aqui.


Nota (Adicionado dia 17):  Descobri que Harold Bloom escolheu o "Der Ring" de Wagner como um dos melhores "livros" ocidentais (assim como o "Nibelungenlied", "Volsungas" e o "Lord of the Rings"). Acessem o cânone ocidental de Bloom aqui. Aparentemente não é só eu que considero o "Der Ring" como livro.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

8° dia - Livro que você menos recomenda

Não recomendar um livro cai no mesmo problema que recomendar pelo simples fato de que TODO LIVRO SERVE PARA ALGUM LEITOR. Para não recomendar um livro, deve-se haver um bom motivo para tal, portanto, o livro que não recomendo é:

A Origem das Espécies - Charles Darwin
Antes que algum biólogo ou fã do livro me agrida, deixe-me explicar o motivo para não recomendar esse livro.

O motivo na verdade é simplíssimo, não tenho nada contra o livro e adoro o The Origins of Species de Darwin, entretanto, esse livro não possui (até onde eu saiba) uma boa tradução em português. E é só isso. A tradução mais importante de Darwin é do tradutor Joaquim da Mesquita Paul publicada pela Lello & Irmão, e essa tradução é por intermédio do francês e possui uma pérola incrível ("espécies distintas" ao invés de "espécies extintas").

Mais aí você me responde: "Existe também a tradução da Hemus e da Martin Claret não é mesmo?" E aí que respondo: "Parece que não!" Ao que parece, segundo Denise do nãogostodeplágio, que as duas traduções supracitadas são Plágios da tradução de Da Mesquita Paul, e há sérios argumentos, dos quais não duvido disso.

Edições não Recomendadas:
Lello & Irmão
Martin Claret
Hemus


Veja a tradução de Da Mesquita Paul aqui.
Veja o problema de Darwin em Português no nãogostodeplágio aqui.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

7° dia - Livro que você mais recomenda

É muito difícil recomendar um livro, pois depende de cada pessoa. Pelo fato de que a leitura, a priori, consiste em gozar do estético, o livro deve ser agradável ao leitor, que pode gostar de textos fantásticos (aí indicaria Lovecraft), gostar de textos quotidianos (aí indicaria Maria Lúcia Medeiros) ou o leitor poderia gostar de sacanagem (onde Bukowski é um líder).

Entretanto, ACHO que o livro que escolhi deve agradar a todos os leitores.

O Melhor das Comédias da Vida Privada - Luis Fernando Veríssimo
Esse é um livro de crônicas de um dos dois melhores cronistas de humor brasileiros (o outro, a saber é Sérgio Porto) e de um dos cinco melhores cronistas do brasil (os outros são Lindanor Celina, Machado de Assis e Eneida de Moraes). Esse livro é uma coletânea das melhores crônicas de Veríssimo (embora eu sinta falta de "Defenestração"), e é bem divertido. Vale a pena ler.

Edição Lida:
VERÍSSIMO, Luis Fernando. O Melhor das Comédias da Vida Privada. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004.

domingo, 10 de outubro de 2010

6° dia - Livro que menos te fez ter a atenção nele

Enigmat: que bicho é esse? - Regina Gonçalves
Essa foi fácil, e tenho vários motivos para ter prestado menos atenção nesse livro.
1º - O livro é infantil, e eu o li esse ano. Não estou mais na idade de ler esse livro.
2º - O livro é voltado às crianças que não gostam de matemática, e a história tem a louvável tarefa de tornar a matemática "mais divertida". O problema é que eu adoro matemática (mesmo sendo um profissional da linguagem), e amo o método "tradicional", descrito no livro como chato.
3º - Não aprendi nada com esse livro, que deveria me ensinar algo.

A história é de um jovem chamado Caio Zip que deveria ser um cara legal e carismático entre as crianças. A personagem é uma típica criança que odeia matemática, entretanto acaba entrando no mundo de Enigmat e deve usar a matemática para vencer os desafios e prosseguir sua aventura. A abordagem do livro é interessante, entretanto, como já falei, acho muito legal o método tradicional da matemática (exceto trigonometria, que é horrível). Um ponto positivo desse livro são as ilustrações, que foram feitas pelas filhas da escritora e são boas e interessantes. Se você tem um filho que acha matemática difícil, recomendo comprar esse livro (de coração), do contrário (se seu filho gostar de matemática, não gostar de ler, ou você não tiver filho), acho melhor investir seu dinheiro em outro livro.

Edição Lida:
GONÇALVES, Regina. Enigmat: Que bicho é esse?. 2ª Ed. Ilustrado por Diana e Vanessa. Rio de Janeiro: Vieira & Lent, 2008, 216p.

sábado, 9 de outubro de 2010

5° dia - Livro que mais te fez ter a atenção nele

Fiquei em dúvida se é pelo livro que me chamou mais atenção por:

1 - Nível de complexidade da leitura (Hommi Bhabha por exemplo)

2 - Riqueza de descrições de lugares e coisas, que obriga a pensar a cada página (O nome da Rosa, O senhor dos Anéis e etc...)

3 - História que te faz dormir, o que obriga a ter mais atenção (Iracema e Helena por exemplo)

Entretanto, a minha escolha é:

Il Barone Rampante - Italo Calvino
O livro que li que mais me fez ter atenção com certeza foi Il Barone Rampante (O Barão Trepador ou O Barão nas Árvores, por conta da ambiguidade do "trepador" aqui no Brasil). O motivo é simples: O livro está em italiano e eu NÃO SEI LER ITALIANO. Claro que tentei, e terminei o livro, mas é horrível interromper a leitura para consultar dicionários. O livro conta a história de um jovem que decide subir nas árvores e não desce nunca mais de lá, o que o obriga a criar um outro mundo (ou um Third Space) em cima das árvores.

Resolvi ler esse livro após ver uma palestra na universidade sobre Guimarães Rosa, onde citaram o Il Barone. Até então não existia uma edição em português do Brasil, apenas uma edição de Lisboa que não tive acesso. Aí consegui emprestado a versão italiana. Por sorte, hoje já possuímos uma edição (pela Companhia das Letras) traduzida por Nilson Molin, que já comprei um exemplar e pretendo ler ainda esse ano.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

4° dia - Livro mais caro que você comprou

Da mesma forma que o livro mais barato, o livro mais caro tem também ser ar de relatividade, e da mesma forma, escolho dois livros diferentes, porém dessa vez não possuem o mesmo preço nem são da mesma editora.

Grammaire expliquée du français - Sylvie Poisson-Quinton; et al

Não tenho muito o que falar desse livro. É apenas uma gramática... explicada.... e da língua francesa. O que posso dizer é que me custou 120 R$ (tá legal, com 20% de desconto saiu a 96 R$). A gramática é boa, mas o preço foi um pouco salgado, mesmo com o desconto.

Edição:
POISSON-QUINTON, Sylvie; MIMRAN, Reine; COADIC, Michèle Mahéo-Le. Grammaire expliquée du français. France: CLE International, 2009.

La Symphonie Pastorale - André Gide
O outro livro mais caro que eu comprei foi o La Symphonie Pastorale do Nobel de Literatura André Gide. O preço do livro foi 50 R$. Sim, não é tão caro quanto a "Grammaire expliquée", mas levando em consideração que é uma edição de bolso, com beeem menos páginas e um formato beeem menor, acho caro. Na verdade, já acho caro as edições de bolso da Companhia das Letras, entretanto, temos que admitir que a qualidade é bem alta, por isso o preço.

Comprei esse livro porque não tinha escolha, queria muito tê-lo e não achei mais barato. Já comecei a ler, mas vou demorar um pouco para terminar, já que meu francês não é tão bom quanto eu esperava (pelo menos não é tão bom quanto meu inglês). A técnica de Gide é impressionante, e o livro é escrito sob forma de "Cahiers", e a narrativa é bem interessante. Fora a relação entre a música e a literatura desde o título (para quem não sabe, a Sinfonia Pastoral é a 6ª Sinfonia de Beethoven), coisa que admiro muito em uma obra. Não é a toa que paguei 50R$ por uma edição de Bolso.

Para dar um pouco de água na boca, leia o início da obra e diga se não é interessante:

<<La neige qui n’a pas cessé de tomber depuis trois jours, bloque les routes. Je n’ai pu me rendre à R… où j’ai coutume depuis quinze ans de célébrer le culte deux fois par mois. Ce matin trente fidèles seulement se sont rassemblés dans la chapelle de La Brévine.
Je profiterai des loisirs que me vaut cette claustration forcée, pour revenir en arrière et raconter comment je fus amené à m’occuper de Gertrude.>>

Existe uma tradução em português desse livro, para quem se interessar. Foi traduzido pela grande tradutora Celina Portocarrero pela editora Francisco Alves, que pode ser encontrado somente na Estante Virtual.

Se você quiser ver a versão original do texto, por estar em domínio público (foi publicada originalmente antes de 1923), está nesse link: http://www.ebooksgratuits.com/pdf/gide_symphonie_pastorale.pdf

Edição:
GIDE, André. La Symphonie Pastorale. France: Gallimard, 1925, 158p. (Impresso em 2009)

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

3° dia - Livro mais barato que você comprou

Pensei durante muito tempo sobre o que seria "Mais Barato". Poderia ser somente o livro (ou "os") que comprei pela menor quantidade de dinheiro. Mas o conceito de barato também é relativo, pois, para mim foi extremamente barato comprar "Diário da Ilha" e "Transtempo" (Lindanor Celina e Benedicto Monteiro respectivamente) autografados por apenas 10 R$ cada. Também posso ter achado barato comprar um Camus novo ou um Milton Hatoum por 6 R$. Posso considerar uma pechincha meu "Novo Dicionário da Língua Latina" que comprei por 80 R$ novo, enquanto o preço de mercado não é menor que 100 R$.


Preferi seguir a primeira opção, e os livros mais baratos que eu comprei foram:


Rubro Amanhecer - Tom Cooper
Esse livro eu comprei em uma banca de revista pelo módico valor de 2 R$. Isso mesmo... 2 R$. De certa forma, foi um preço justo, pois, se pagasse mais por esse livro, provavelmente me arrependeria.

Rubro Amanhecer conta a turbulenta história de amor entre Nancy e Bradford. Há no livro outros personagens como por exemplo Rafe Johnson, Dan Donahue, Ed Richard e o general Tran Vinh Lin, (-SPOILER) um vilão pouco profundo (-SPOILER), além de outros. "Rubro Amanhecer" se compõe de uma história de amor, violência, sangue, aventura, exército americano, cultura oriental, sequestro e etc... tudo que se possa imaginar para impedir o amor do pobre capitão Bradford e sua querida Nancy.

Agora vem os problemas: O livro é um clichê do início até o fim, os personagens possuem descrição muito pobre (isso quando possuem uma descrição), os personagens são pouco atraentes e muito "mecânicos", enquanto o final não é nem um pouco surpreendente. É verdade que há tensão e conflito em todo o livro, mesmo assim, não é um livro que faz muito bem essa tarefa. Outro ponto negativíssimo (essa palavra existe?) do livro é a mistura de elementos (sensualidade, seriedade, ocidente, oriente, entre outros) que não foi muito bem manejada.

Rubro amanhecer é um livro que foi escrito para ser um Best Seller alla Dan Brown, mas falhou em sua tarefa. Talvez o que faltava para esse livro é polemizar a igreja e virar filme (se é que não virou). Não vou nem comentar a tradução do título para não entrar em desgosto (Triad of Knives para "Rubro Amanhecer"). Agora vamos para o próximo livro barato que comprei.

Edição Lida:
COOPER, William Thomas. Rubro Amanhecer. 2ª Ed. Traduzido do inglês por Elsa Joana Frezza. São Paulo: Nova Cultural, 1991, 226p.


Carro dos Milagres - Benedicto Monteiro
Assim como Rubro Amanhecer, comprei o Carro dos Milagres por 2 R$, e por coincidência também é da editora Nova Cultural. Na minha opinião foi uma aquisição mais feliz. Porém nem tanto.

Carro dos Milagres é o primeiro livro de contos do escritor Benedicto Monteiro (nascido em Alenquer e membro da Academia Paraense de Letras, morto em 2008), e veio após os dois primeiros livros de sua Tetralogia Amazônica (Verde Vagomundo, O Minossauro, Terceira Margem e Aquele Um). A obra em si é boa, e até certo ponto revolucionária. A forma com o que Benedicto escreve é interessante e até então inédita no Brasil (mas já havia sido usada por outros escritores, como Camus por exemplo); é muito interessante a relação entre narrador e narratário no livro, bem como as diferentes versões da história no conto "O Sinal", conto esse que na minha opinião é o melhor do livro inteiro.

Mas aí ao comparar "O Sinal" com o conto que deu título à obra "O Carro dos Milagres", vemos uma diferença de qualidade absurda. Para quem interessar possa, "O Carro dos Milagres" é uma conversa (em certa hora um monólogo) entre dois "cumpadres" na festa do Círio de Nazaré (festividade tradicional de Belém do Pará).

Aí vem os outros contos. E:
...
...
...
Não, eles não são ruins, o problema é que são transcrições EXATAS de pequenas narrativas presentes no romance "O Minossauro" (e novamente re-repetidos em "Aquele Um"). Isso inclui os contos: "O Papagaio", "O Precipício", "O Pau Mulato" e "Fim de Mundo". Enfim, a maioria do livro é um recorte de outro romance do autor, que foi recortado de novo e incluído em outro. São ótimos contos, mas o fato de eu ter lido "Aquele Um" antes de "O Carro dos Milagres" me dá a ideia fixa de "falta de criatividade" do autor, e faz com que minha pechincha não seja muito válida.

Por fim, há um outro conto chamado "O Peixe" que também é bom, e que vale apena ser lido, conto esse que mostra a influência dos rios e do pensamento religioso em comunidades ribeirinhas pobres.

Edição Lida:
MONTEIRO, Benedicto. O Carro dos Milagres. 2ª Tiragem exclusiva para o estado do Pará. Rio de Janeiro: Nova Cultural, 1975, 95p. (Co-Edição com a Editora Boitempo).


Como eu fiz quase uma resenha hoje, estou me controlando para não colocar nota nem adicionar marcadores nessas postagens.

Amanhã teremos o livro mais caro.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

2° dia - Livro que você mais odiou

De todas as escolhas, essa provavelmente é a mais difícil. Da mesma forma que há muitos livros geniais, há muito lixo que é publicado, seja em grandes editoras, quanto em edições do autor.

Os motivos para uma obra ser odiada podem ser vários:

1º Linguagem que não condiz com o leitor (erros grotescos para um leitor acadêmico ou rebuscamento para um leitor menos exigente). Isso faz com que uma obra possa ser amada por uns e odiada por outros (exemplo clássico é o de Machado de Assis e Paulo Coelho, pois quem gosta de um, dificilmente gosta do outro).

2º A história pouco interessante.

3º Péssima tradução, no caso de obras estrangeiras. E entre vários outros fatores.

Não vou escolher uma obra estrangeira, pois não tenho o hábito de ler as obras no original (afinal, existem traduções para me poupar o trabalho), mesmo quando tenho conhecimentos na língua de origem. Também não vou cutucar Paulo Coelho, Augusto Cury entre outros, pois não sou o público alvo desses autores. Portanto, minha escolha é:

Iracema - José de Alencar

Iracema é um clássico da literatura universal, eu sei, e é destinado a todos os acadêmicos, críticos e leitores exigentes (o que é o meu caso). Entretanto (sempre há um entretanto), a história do livro é um eterno cliché romântico. É verdade que o romantismo brasileiro não foi uma grande maravilha, pois foi uma cópia do francês, que por sua vez, copiou o alemão. Iracema é o ápice do declínio literário do romantismo brasileiro; pelo amor de Deus:

"Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu s orriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado. Mais rápida que a corça selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas."

O que era para ser poesia, em Iracema é uma tremendo enrola-enrola de péssimo gosto. Não gosto de falar desse livro. Acho que vou vomitar.

Espero falar de um livro melhor amanhã.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Desafio - 10 livros em 10 dias!!! | 1º Dia - Livro que você mais gostou

Calma! Não é para ler 10 livros nos 10 dias, mas sim citar os livros segundo alguns critérios:

1° dia - Livro que você mais gostou;
2° dia - Livro que você mais odiou;
3° dia - Livro mais barato que você comprou;
4° dia - Livro mais caro que você comprou;
5° dia - Livro que mais te fez ter a atenção nele;
6° dia - Livro que menos te fez ter a atenção nele;
7° dia - Livro que você mais recomenda;
8° dia - Livro que você menos recomenda;
9° dia - Série de livros que você mais gosta e;
10° dia -Livro mais velho que você tem ou leu.

Vi o desafio no blog Rato de Biblioteca (http://www.terracotabolsas.com/rato/index.php/10-livros-em-10-dias-a-leste-do-eden/), achei a ideia boa, e decidi participar.O desafio foi criado pelo blog Partes de Um Diário (http://partesdeumdiario.blogspot.com/). O objetivo não é o de resenhar o livro, pois, muitos merecem resenhas caprichadas.

Então, ao trabalho:

1º Dia - Livro que você mais gostou

Memórias Póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis
Além de ser o livro que eu mais gostei, também foi o primeiro livro que li na minha vida (estou falando sério). Não sei se é por pura teimosia que mantenho Memórias Póstumas como o ápice de meu cânone pessoal, mas o que importa é que tudo o que eu leio, tenho como referência de qualidade esse belo livro. Acho que não é necessário resumir a história de Memórias, pois querendo ou não, acho que todo mundo conhece ou deveria, nem que seja para passar de ano no EM ou para prestar vestibular.

1ª Edição Lida: ASSIS, Machado. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Coleção Biblioteca de Ouro da Literatura Universal (nº 1).


Machado de Assis no domínio público aqui.
Machado de Assis no projeto Gutenberg aqui.
Memórias Póstumas na MetaLibri aqui.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Milton Hatoum - Relato de um certo Oriente

Relato de um certo Oriente é o livro de estreia de Milton Hatoum na literatura, e ganhou um Prêmio Jabuti.

O livro é escrito na forma de cartas de uma mulher para seu irmão no outro lado do globo. A narradora, depois de muitos anos fora, retorna a casa em Manaus se depara com a decadência familiar. "Relatos de um certo Oriente" é um livro onde a memória é o recurso mais importante, e o presente e o passado se confundem. A narrativa é lenta, mas cheia de estórias, como a de Soraya Ângela, menina deficiente que morreu de forma brutal antes da partida dos irmãos, ou a de Emir, irmão suicida de Emilie, ou a de do fotógrafo Dorner, e entre muitas outras.

"Estavas ausente naquela manhã. Emilie te levara ao mercado, os tios dormiam e Samara Délia madrugava na Parisiense com vovô. Tudo aconteceu de uma forma rápida e inesperada, como se o golpe fulminante da fatalidade perseguisse o corpo de Soraya Ângela" (HATOUM, 2004, p.15)

A riqueza de personagens no livro é tamanha, que deve-se ler com muito cuidado, prestando atenção nos muitos detalhes da personalidade de cada um, que compõe o quebra-cabeça da memória da narradora, que descreve tudo como uma perfeita observadora. O fato de haverem muitas personagens e relativamente poucas páginas (166 na edição convencional), a riqueza da descrição da personalidade individual é perceptível em todos os personagens.

Outro ponto importante de se perceber na obra é a sociedade híbrida presente nela, que se compõe de escravos (mesmo após a abolição da escravatura), libaneses, índios, amazonenses e demais estrangeiros, e alguns comportamentos sociais que variam do comum ao bestial. Ler "Relatos de um certo Oriente" pode ser ler um romance instigante ao mesmo tempo de ler um tratado sobre o comportamento social e psicológico dos habitantes do Amazonas.

O livro supra citado de Milton Hatoum possui tudo que pode se desejar de um livro, principalmente ao tratar-se da coerência e dos conflitos familiares. Um dos melhores livros escritos no Brasil nos últimos anos, que está destinado a pertencer ao cânone da literatura universal.

Nota do Elaphar: 9,6

Edição Lida:
HATOUM, Milton. Relatos de um certo Oriente. 2ª Ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2004, 166p. 
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