sábado, 30 de outubro de 2010

H.P. Lovecraft - A Tumba e Outras Histórias

O dia das bruxas (Halloween) está chegando, e nada melhor nesse dia que ler um livro. Eis que apresento "A Tumba" de Howard Phillips Lovecraft.

Para quem não conhece, H.P. Lovecraft é quase um "Deus" dos contos de terror, foi influenciado por Poe, passou a ser influência básica de todos os escritores que seguem essa linha, como por exemplo Stephen King e Borges. Além da literatura, Lovecraft influenciou muito o cinema e música, essa última, bandas como Black Sabbath, Iron Maiden, Metallica (The Call of Ktulhu e All Nightmare Long) e Adagio (R'lyeh the Dead). Pessoalmente, conheci Lovecraft no RPG, na época em que jogava The Call of Cthulhu.

Não é a toa todo esse nome na literatura de horror, pois, ao ler "A Tumba e Outras Histórias" sentimos um clima denso e sinistro a partir da leitura. Muito bom livros da época em que monstros eram monstros, e vampiros não brilhavam no sol.

O primeiro conto, que dá nome ao livro, é denso e carregado de loucura (característica importante da obra lovecraftiana) e mistério. A narração em primeira pessoa é extremamente perturbadora, pois, o narrador está internado em uma clínica psiquiátrica e não há garantias da completa destruição de sua sanidade mental. Mesmo se o relato do narrador for verídico (o que é possível na narrativa), o que presenciou é o suficiente para transformar seu cérebro em massa gelatinosa.

O segundo conto, também narrado em primeira pessoa, chama-se "O Festival". Nesse conto, percebe-se muitas características de Poe (principalmente em "The Raven"), desde o clima sombrio, ao excesso de adjetivos, até os "tomos de ciências ancestrais". A sabedoria e a tradição são as mais sinistras possíveis nesse conto, e as descrições dos ambientes e das criaturas são muito fortes.

Já o 3º conto (Aprisionado Com os Faraós), há uma nítida divisão em duas partes. A primeira, é alegre, apresentativa (existe isso?) e uma grande aula sobre o Egito (sejam verdadeiros os fatos ou não), assim como a primeira metade do livro Mobby Dick (que possui uma verdadeira aula sobre baleias). Essa primeira parte, é bastante longa, mas ainda assim interessante. Quando a segunda parte começa, começa o incrível, o onírico e a loucura.

Em "Ele", o quarto conto do livro, há um jogo interessante com o tempo e as artes secretas. O quarto conto por sua vez, chama-se "Horror em Red Hook", e é um conto policial (em terceira pessoa), onde a investigação se mistura a forças demoníacas, entidades secretas, mistérios insolúveis, barbaridades e é claro, a loucura. Em Red Hook o mal está além do que pode ser eliminado, e está enraizado na terra.

"A Estranha Casa que Pairava na Névoa" é um grande conto, que, embora não tenha o horror presente nos contos anteriores, possui um jogo com o incrível, assim como o próximo conto (Entre as Paredes de Eryx), que também não é de terror, mas espacial. A narrativa de ficção científica não é o "Forte" de Lovecraft, entretanto, esse conto é muito instigante e reflexivo. Há muito o que pensar em "Entre as Paredes de Eryx", mas acima de qualquer coisa, é um conto divertido e bom de se ler. O último conto por fim, que chama-se "O Clérigo Diabólico", é misterioso e sinistro.

Além desses contos, "A Tumba e Outras Histórias" conta com mais cinco contos ditos "imaturos" de Lovecraft e mais quatro fragmentos (ou contos incompletos). Dentre os primeiros contos (os "imaturos"), alguns surpreendem, sendo que o conto "A Fera na Caverna" pode ser considerado até como o melhor conto do livro, enquanto "Poesia e os Deuses" é extremamente moderno e inovador, com um jogo de misturas e reflexões sobre a arte de escrever. O conto "A Rua" me lembra muito "Ícaro, Icarus" do escritor brasileiro Alfredo Garcia, até mesmo em sua estrutura, o que me faz pensar se Alfredo também não é um influenciado de Lovecraft (o que é estranho, levando em consideração que o escritor brasileiro escreve muito infanto-juvenil, mas acho que estou divagando). Não quero comentar sobre os fragmentos, pois são incompletos, embora alguns mereçam comentários longos.

A obra de Lovecraft é vasta e interessante (e em parte assustadora), e a tradução de Jorge Ritter é de grande qualidade (independente do original, pois, minha preguiça me impediu de ler os textos originais), e a única crítica possível seria quanto às poesias, que foram traduzidas apenas em seu sentido e não em sonoridade (metro e rima), como pode ser observado na tradução de: "Pile each on your platter a mountain of beef,/ For'tis eating and drinking that brings us relief;" para: "Abarrotem suas travessas com uma montanha de carne/ Pois comer e beber é o que nos traz alívio", mas não acho que esse ritmo de prosa seja prejudicial à leitura, e além do mais, o original aparece em nota de rodapé.

Por fim, a qualidade da edição é muito boa (marca da L&PM, que cada vez sobe mais no meu conceito), o que pode ser visto desde a capa que possui o clima sombrio que o livro merece, mostrando que os livros de bolso podem sim ter qualidade a preços baixos. Só achei que faltou pelo menos um conto da parte Chthuliana da obra de Lovecraft, mas há também "O Caso de Charles Dexter Ward" que também foi publicado pela mesma editora.

Como Lovecraft pertence ao domínio público, sua obra está disponível aqui (em inglês) e aqui (em português).

Nota do Elaphar: 9,0

Edição Lida:
LOVECRAFT, H.P. A Tumba e Outras Histórias. Trad: Jorge Ritter. Porto Alegre: L&PM, 2010, 224p. (Coleção L&PM Pocket)

Como falei hoje da L&PM que subiu no meu conceito, outra hora falo de uma editora que caiu em conceito.

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